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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Episódios do Minho

João-Afonso Machado, 31.05.13

Andam há muitos anos nisto e se não crescessem não continuariam a arrendar mais terras para sustentar o seu gado. Trabalham para eles próprios, sem mais alguém. Identificá-los na rua, além dos das suas relações, só talvez quem  lhes cobre as rendas... Mas o ritual é antigo. Estão aí duas dezenas de hectares a lavrar num dia. Com o tempo a voar, será o tempo de deitar abaixo umas tantas toneladas de milho híbrido. Dois tractores uma noite toda, iluminada como uma romaria. Lá para Setembro, dois tractores - os tais - ainda em tempo das rãs e dos ralos e do calor, uma noite - essa - estranhamente enfarolada para a vizinhança.

São empresários, três irmãos, não há quem os conheça por ricos. Somente não esbanjam e trabalham. Em abrindo a boca qualquer subsídio, é claro, aproveitam. Mas não vivem à espera deles, não choramingam e desconhecem sindicatos. Quanto a horários...

 

 

 

 

Machado Fm

João-Afonso Machado, 29.05.13

E assim continuámos a lutar contra a invasão disco sound. Sem colarinhos aborboletados, mirabolantes, e sem sapatos de tacões obscenos. Quase num silêncio comunitário feito destes sons que empolgavam e apelavam ao sonho. The Doobie Brothers e o seu Long Train Running. Em tantas noites de conspiração contra a "música comercial". 

 

 

 

"Pinhal Interior"

João-Afonso Machado, 28.05.13

Nascendo de nada

senão fugas, abandono,

 

um infindo olhar o horizonte.

 

Cores sem dono

das promessas de amor,

o sono

das águas na levada,

 

sempre nascendo, o monte

e o nada…

 

Não fora as penedias e os pinhais,

selo do ser, alma dos dias

morrendo,

revivendo sem iguais.

 

Senhor sem nome,

ocasião e dor,

luz de aço,

cordão e espaço

 

onde hei sempre levar-te,

grito perdido de arte,

 

- Interior! 

 

 

 

Do cimo do mirante

João-Afonso Machado, 27.05.13

Vem de mais a norte, da serra da Estrela. Mas ainda rapazelho, curveteando entre as serranias. É o Zêzere, no exacto momento em que marca os limites dos concelhos do Fundão, de Oleiros e da Pampilhosa da Serra. E os distritos de Castelo Branco e Coimbra também. É muita responsabilidade para um rio só, ainda por cima tão novo, tão magricelas visto do alto do miradouro de Orvalho. E entre os sucessivos povoados postos à sombra dos pinheirais e eucaliptais ocorre-me o nome de um - Bogas de Cima. A querer explicar que também existe Bogas de Baixo. Assim com Escalos - de Baixo e de Cima, igualmente. É muito peixe, muitas águas e todo o mistério que nelas se oculta. São os sinos das aldeias, as vozes longínquas, os imensos falares dos animais. E tudo o que a nossa imaginação quiser se passe lá em baixo, dos vales para as encostas.

No fundo, é o Portugal ainda português. Esse de que é impossivel não gostar.

 

 

Na "região do pinhal interior"

João-Afonso Machado, 26.05.13

Viagens como se fossem para mundos tão diferentes, afinal sem irmos além fronteiras. A Beira Baixa! A "região do pinhal interior", "aldeias do xisto"... A afirmação de uma identidade que procura suplantar a desertificação e da pobreza fazer riqueza.

O Hotel de Santa Margarida, em Oleiros - no distrito de Castelo Branco - é obra da Câmara Municipal. Concessionado a privados, constitui uma aposta iniciada em Outubro de 2012. A partir dali, são todas as belezas da maior mancha florestal do País absolutamente ao alcance do nosso deslumbramento. E, a seu lado, a ribeira de Oleiros sujeita a regime especial de pesca desportiva.

Uma vez mais, as autarquias ao leme da inovação. Ou de mãos nos remos, contra a maré...

 

 

Monumento nacional!

João-Afonso Machado, 25.05.13

Um cinquentenário e um centenário em 2013 - respectivamente, o da inauguração da Ponte da Arrábida e o do nascimento do seu genial projectista (que partiu em 2000), o Eng. Edgar Cardoso.

Ninguém acreditava fosse possivel. Aquele arco em betão (o maior do mundo) de certeza não se sustentaria e condenados estão os que ousam desafiar o poderio divino... Etc, etc. À época muitos eram os que iam dar o seu passeio pela via panorâmica, na espectativa da fatal catástrofe. A epopeia arrastou-se durante seis anos e custou 240 mil euros.

É uma obra inteiramente portuguesa. Ainda lá está, obviamente. Com a diferença de, agora, ostentar a medalha de monumento nacional que lhe foi atribuida neste ano de dupla comemoração.

 

 

O «momento do investimento»

João-Afonso Machado, 24.05.13

A afirmação de Álvaro Santos Pereira só não constituirá um dogma se pecar por defeito: «estamos atrasados uma década». Eu diria muitas mais: estamos atrasados todas as décadas perdidas em republicanices que levaram Portugal para muito longe do são convívio com as grandes nações civilizadas. (O Ultimato? Qual deles, de 1910 para cá?...).

Seja como for (e deixando de lado as mais profundas questões a que havemos de agradecer o caos instalado), a intervenção do Ministro prende-se com aqueloutro anúncio de Vítor Gaspar, sem dúvida bombástico, - «chegou o momento do investimento», pressupondo a consolidação das contas públicas.

Terá mesmo chegado? É que para vender não basta o vendedor - urge também o comprador... O «momento do investimento» é o momento dos investidores. A sua bendita aparição.

Mas o ministro Álvaro disse mais, frisou tratar-se de investimentos de curto prazo, os quais contariam já com fundos e benesses fiscais. A Esquerda duvida, como lhe compete. Crê-se, no entanto, ser de acreditar. O plano faz sentido, do mesmo modo que se deve reparar as fissuras da casa antes de iniciar outros melhoramentos. Talvez Passos Coelho seja, afinal, dotado de lucidez e Gaspar não o tontinho que muitos queriam ver a falar sozinho aí pelas ruas.

 

 

Assim escapámos com vida...

João-Afonso Machado, 21.05.13

Afinal é mentira, falsidade que a História, em geral, e Eduardo Noronha, em particular, mantiveram ao longo de décadas - o célebre Zé do Telhado não morreu, homem novo ainda, barbado como um miguelista saudoso, ao fim de um ano de degredo em Angola. O homem está por cá, implacável, salteador de gema, talvez um pouco mais pesado e já de lunetas. Todos fomos quase suas vítimas, o domingo transacto.

Todos - os que caminhávamos de Landim para Seide, em passeio invocativo. A coisa deu-se nuns matos, não muito longe das águas negras do Pele, de onde o aventureiro se descobriu de arma em riste, reclamando ouro e dinheiro, como um vulgar ministro. Pânico geral entre os passantes. A morte ameaçava-nos pelas bocas negras de dois canos de espingarda.

Um proprietário da região foi a voz providencial na circunstância: gritando - Camilo Castelo Branco viajava connosco, Zé do Telhado! - O amigo Camilo! Reconhecendo-o, cairam nos braços um do outro. Tinhamos, por isso, escolta até ao nosso destino, protocolo firmado assim que desvaneceu a confusão suscitada pela quadrilha do Zé, de varapaus em riste a entrar antes da deixa.

A viagem prosseguiu sem outros sobressaltos além dos comunicados por dois transistorizados que iam informando dos resultados na Luz e no Dragão.

Dá-se o caso de já antes eu topar o meliante, com a sua arma envolta num retalho de chita colorida. Daí a minha irresistivel curiosidade, assim o ambiente tornou à suave verdura dos fetos: - então, sr. do Telhado, que maravilha é essa de que se faz valer?

Ele sabia muito bem. Era uma centenária Saint Etiènne, cal. 16. Olhei-a de ponta a ponta e cobicei-a. Imaginei-a restaurada, sem aquela fita isoladora a firmar a coronha, rebrilhando na parede da minha sala. Talvez ainda disparando... Infelizmente, porém, o Zé do Telhado não se lembrou de a esquecer encostada a algum pinheiro. Porque senão a História voltaria a ter de se recontar...

 

 

BTT - voltem sempre!

João-Afonso Machado, 20.05.13

É a busca dos recantos sobrantes de caminhos de terra batida e pedra descoberta pelas chuvas. Com todos os atalhos rasgados entre matas e a maior dificuldade que se possa proporcionar aos concorrentes. Por junto, ainda se somam 80 ou mais quilómetros de competição BTT.

Ou seja, a ausência de poluição, um respeitável silêncio, desporto sadio, e um assinalável corte de despesas pessoais nesta prátca pedaleira. A modalidade conta com cada vez mais adeptos.

De freguesia em freguesia, fica também a impressão de que mais importante do que ganhar é participar. E em provas supostamente ao alcance de todos. (Mesmo daqueles cujas pernas se habituaram entretanto às botas de boas solas e às marchas matinais pelos montes. Às perdizes...).

Por tudo, os inscritos foram muito além do milhar. Durante horas, os ciclistas passaram. E "bom-dia" ou "boa-tarde" era o cumprimento que nem o seu suado e ofegante esforço dispensava ante os que, nos caminhos, observavam.

Essa a faceta mais simpática dos militantes das BTT. A condizer com a serenidade da região.

 

Às perdizes na praia

João-Afonso Machado, 18.05.13

Tarde de temperatura amena, mas bastante ventosa. Deixando adivinhar tiros dificeis. Logo no início a cadela marrou-se numa covinha da areia, dando mostras de não querer sair dali. Só podia ser perdiz. E com a nossa aproximação foi o levante e um tiro que não esqueceu o devido desconto, a desejada ia já com a nortada, parecia um foguete. Mas acabou em queda abrupta sobre o mar. Ali ficou de asas abertas, à deriva, entre a espuma das ondas. A cadela nem hesitou. Saltando através das penedias, acabou mergulhando a poucas dezenas da peça, abocanhou-a e, nadando para o areal, a cabeça sempre à tona, prazenteiramente a depositou em minhas mãos. Foi apenas o princípio de uma jornada gloriosa.

 

Se tudo isto é peta? Porque não há perdizes nas praias? O bom senso o diz, sonoridades bíblicas à margem, - é mais fácil caçar uma perdiz nas praias do que ser filho de um pai e de outro pai, ou de uma mãe e de outra mãe. A não ser em países desgraçados como o nosso em que a realidade - já o diziam os integralistas - não resulta da essencialidade mas dos decretos da governação.

Falsidade por falsidade, esta, ao menos, é inócua...

 

 

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