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Preclarissimo Senhor:
Militante das Manifestações
M. Pombal - Pr. Comércio (Lisboa)
Irreverent.mo Iluminado:
Com certeza erguereis hoje bem forte a vossa voz contra aquele casalinho que a SIC acompanhou anteontem na sua viagem do Porto a Londres: com somente dois mil euros no bolso, sem uma morada de referência. Mas à procura de melhor vida que terão encontrado logo ao segundo dia, trabalhando como recepcionistas de hoteis. Oitenta horas por semana, explicaram eles, felizes, e nessa felicidade residirá certamente a vossa indomável raiva. Como oitenta horas por semana? Como não metade, apenas?
Foi o que também lhes perguntei, levando por resposta estarem ali para dar o litro, organizar a vida, comprar uma casa, terem um dois filhos, se calhar e se chegássemos a entrar mais adentro na sua privacidade.
E, tinham eles concluido, não era com manifestações, pedras e canções, muito menos com orações à Senhora de Grândola, que atingiriam os seus desideratos. Calei-me, então, macambuzio, desprovido de argumentos. Recordando tudo o que foi a nossa emigração nos 60's. O que foi, talvez, a vida dos senhores vossos pais para que andeis, vós agora, aos berros avenida abaixo, incomodando toda a gente para proveito de ninguém.
Aqui para cima - onde ainda ontem se lia num jornal que é uma terra pobre mas, curiosamente, com muita qualidade de vida - abriu entretanto a pesca à truta. Lá iremos esta tarde, eu e a minha eleita, a ver que tal correm os nossos ribeiros. E vai também a perdigueira, porque insisto que ainda hei-de apurar uma raça canina de caça e de pesca. Coisa única no mundo, de exportação garantida para os quatro cantos do globo. Uma potencial caudalosissima fonte de emprego...
Mas nessa altura, Irreveret.mo Iluminado, não conteis comigo e com um lugar na minha Empresa. Soam ainda no ar as provocações, os dichotes, os petardos, as pedras e as latas, as horas seguidas de desafio à paciência policial. Para no fim sairdes de lá um mártir! Não, Irreverent.mo Iluminado, nunca mais aqui teriamos o sossego de que as cadelas precisam para parirem.
É essa a vossa sina e a vossa ocupação: desocuparde-vos por vocação.
Tentai antes, por isso, um sindicato. De preferência com quotas em dia...
Que sejais muito menos maçador do que estas minhas letras, é o que melhor vos pode desejar o
JAM