Um falcão na cidade
A distinção de cidade é cruel. Será sempre, para tantos, "a Vila". A vila da nossa infância e da nossa juventude, hoje transbordando muito os familiares limites de então. De quando só o hospital tinha elevadores... Enfim, sobrevieram os prédios imensos, as torres, como cogumelos no tempo deles. E o título - "cidade"! Não podia ser de outro modo, não ficam ressentimentos, e é maior, muito maior, o entusiasmo da visita rara, quase inaudita - um falcão peregrino sobrevoando os seus céus, predador compulsivo, sedento de pombas. Entre estas, sim, foi o pânico total.
Rasou as cumeadas dos edificios maiores. Creio tenha almoçado lautamente. Abalou. Aos fins-de-semana, quando o movimento nas ruas decresce notóriamente e o silêncio consente se oiçam estas e muitas outras manifestações de vida, talvez regresse um dia qualquer. O seu quid pro quo com as pombas é um assunto da Natureza, e a fulgurância do seu voo um espectáculo sempre convidativo.