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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Tarzan e Jane

João-Afonso Machado, 09.03.13

Um súbito grito despiu o silêncio que se resguardava entre a vegetação frondosa. Alvarmente (Edgar Rice Burroughs mentiu-nos, Lord Greystoke nada tinha a ver com Tarzan), desabridamente, o grande figurão, a mão em concha junto à boca, soltou o macacal berro a pedir auxílio ao pessoal do cipó - Jane, escanzelada e com péssima cara, decerto doente, esvaziara o coqueiro, a bananeira, e queria mais; isto é, queria quem fosse buscar mais. 

Já os gorilas todos se afastavam, cansados da ditadura na selva, fartos de servir, incapazes de alcançar o que vislumbrava Tarzan em tão imprestável Jane.

Assim o casalinho deu consigo à deriva, na savana, a uns quantos meses da estação das chuvas. Tarzan já não lhe sobrando as forças para a grande cavalgada de Jane às suas costas - escanzelada, sim, mas roufenha, rouquejante, a picar-lhe os miolos e a famosa audição do homem-macaco.

Como tudo acabará? Sobreviverão eles?

Iam os espectadores apostar não... - quando, no horizonte, surge um pouco resguardado acampamento de brancos caçadores e a história parece querer dar uma reviravolta. Agora, todas as noites Jane e Tarzan (a mão sempre em concha, oh-ih-oh, a meter conversa com o bichano dos exploradores) espreitam a paliçada à cata de algum alimento, algumas sobras, um qualquer vestígio de qualquer coisa, nem sabem eles o quê.

E do lado de dentro desse facebook da vida a gente do acampamento pressente já a visita dos estranhos, sabe-se observada por desconhecidos, na certa não amigos, o que misteriosamente intentarão?

Redobradamente vigilante, ainda demorarão uns dias de expectativa. Afinal, o acampamento-facebook visa apenas expor trabalho, em nada pretende contender com o indígena... Não haverá, pois, que temer.