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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Mécia já cá está

João-Afonso Machado, 30.03.13

Para reforço do governo das nossas almas. É uma remodelação. Nascida da classe média, numa família de oito irmãos, quer o pai, quer a mãe, afamadíssimos na caça à perdiz, onde lograram extenso curriculo.

Mécia ainda ontem viajou de V. N de Gaia para as famalicenses terras de mistério e tradição. Conheceu a sua nova casa e repousou um pouco, durante a tarde. Almoçou com muito apetite e da melhor disposição.

Ainda teve tempo para guerrear o gato (com quem se está tratando faça as pazes) e, à noite, assistiu à procissão de Sexta-Feira Santa.

As tribos minhotas têm, de uma forma ou de outra, manifestado o seu gáudio pela chegada de Mécia à nossa Provincia.

 

A narrativa embusteira

João-Afonso Machado, 27.03.13

Confirma-se: Sócrates esteve na Sorbonne e estudou Herodoto. Trouxe a boca cheia de narrativas e narrou, narrou, narrou, até ao adormecimento geral. Vale dizer, não se saiu mal, também, na retórica e no sofisma. Valeu-lhe a pena o "empréstimo" e a estadia em Paris.

É claro, safou Sócrates a, bem ou mal intencionada, precipitação dos entrevistadores. Era deixá-lo falar, desguardar-se e cair-lhe em cima com os argumentos certeiros. Mas não: sempre a oratória ganha uma vez instalada a confusão de vozes.

Assim se ouviram ditos inolvidáveis: os seus esforços para manter o rigor orçamental, a rejeição do célebre PEC4, única determinante do pedido de ajuda externa (a que acabou por aderir por se sentir sozinho na "luta"), a fidelidade de princípios que invocou para manter no OE o aumento de 2,9% da Função Pública...

Pelo caminho, deu forte em Cavaco, de quem já não consegue ocultar querer suceder.

E usou e abusou do termo "embuste". Fez muito bem! A entrevista foi isso mesmo.

 

O regresso de Sócrates

João-Afonso Machado, 24.03.13

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Com incontida emoção cá recebi a notícia do comentário político de Sócrates, na RTP1, a estrear já na próxima quarta-feira. E, confesso, não percebi as ondas de indignação erguidas em volta da dita novidade.

Tudo isto por razões obvias.

Desde logo porque nunca ne chocaram os depoimentos do terrível Capitão Roby - lembra-se? - autoflagelando-se no fogo em que punha as suas mãos pela sua própria honestidade. Ora então, porque não o mesmo com o nosso recordista mundial de PPP's?

Depois porque Tozé Seguro se é perigoso em alguma coisa será na vacuidade dos seus dizeres, que nem os mais imaginativos conseguem criticar e desmascarar. Mesmo a evidência de que anda debaixo das fustigadinhas de Costa (o Marajá), já nada produz, nem um textozito de cacaracá.

Assim voltaremos ao grande figurão. E em directo. Teremos, outra vez, a sua vozinha nasalada de criativo da moda, as suas mirabolantes versões, o ar malcriado de quem não gosta que um entrevistador competente o confronte com a realidade.

E caso o entrevistador não seja competente... cá estaremos nós, a Imprensa livre, os blogs isentos, para lhe cortar cerce no nariz.

E, sobretudo, para contrariar a sempre fraca memória da opinião pública.

Não podiamos, por isso, esperar melhor ideia da RTP1.

 

 

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 24.03.13

Na idade dos sonhos Jim Croce tocava todas as noites. Era no pequeno bar do nosso quarto, à meia-luz, não decerto nas melhores condições acústicas mas, no correr das horas, criando a convicção do possivel já para amanhã. Quando nos levantássemos e partíssemos com um destino e uma identidade - «Like the pine trees lining the winding road / I got a name»... - por mares nunca antes navegados - «Moving me douwn in highway / rolling me douwn the highway»... - ainda longe de um bigode portentoso como o seu, mas não dispensando o blusão, o cigarrito, o metálico fechar do zippo, enfim, toda a parafernália que nos proporcionaria a triunfal travessia da route 66.

I Got a Name foi um hino. Jim Croce, com quase todos os sonhos morreu cedo (e creio que de morte macaca).

 

 

 

Meia duzia de anos depois...

João-Afonso Machado, 23.03.13

... reapareceram as fotografias ainda reveladas do rolo da velha Canon, aliás sucumbida em pleno alto-mar, asfixiada em tanta água salgada que engoliu. Mas deixando herança heróica, o testemunho da primeira viagem a S. Miguel, a perseguição aos golfinhos e toda a peregrinação dos dias anteriores, das lagoas para as Furnas, com o especial momento do fabuloso cozido à portuguesa e com a praia e a excepcional companhia dos amicíssimos que nos acolheram. O pai viajou com o filho mais velho, a baleia foi uma quase visão, a bandeira açoreana põe em sentido a republicana. As águas sulfurosas, bebam-nas - têm as suas vantagens...

Foi em Agosto de 2007, uma primeira abordagem a um mundo inteiro a conhecer. O CD das fotografias, sonhado encontrar em gavetas de mesas que nem existiam, afinal estava debaixo das saias de um móvelzito de apoio. E vai, ainda hoje, por estes meios modernos e expeditos, ao cuidado dos anfitreões, que as muitas gerações de proximidade transformou em parentes. A anterior entrega ocorrera via postal para Ponta Delgada. Extraviou-se. Talvez comida por algum tubarão, em maré de mau tempo no canal...

 

 

Mudança de casa

João-Afonso Machado, 22.03.13

Quis o Destino viesse morar para junto deste regato. Não exactamente nas suas margens, é claro, mas um pouco acima, lá para os lados do casario - "moradias em banda", como correntemente se diz. Bom, não é que viva numa delas. Não chegava para tanto. A coisa resolveu-se com um T1. Um apartamento de uma assoalhada só, na nomenclatura lisboeta. É, mas espaçoso, uma boa sala, a cozinha excelente. Preocupa-me apenas o exaustor, não sei se não será de comprar um novo, despesas imprevista, esqueci-me dessa minúncia quando visitei o apartamento. E o exaustor, depois de exausta a minha conta bancária? E a sua colocação? E onde descobrir um artista capaz de tal façanha?

Afora isso, tudo uma maravilha. A nossa parceria inclui os canídeos, comummente considerados indispensáveis amigos. Foi a pensar neles e na sua juventude que as temíveis cortinas que encontrámos ficaram no lugar. Tempos virão em que novos tecidos se perfilarão.

Resta somente a estante imensa, pensada a transbordar de livros. E de miniaturas Corgy e Dinky. Jura-me o carpinteiro que para a semana está no sítio. Eu aconselhei-o a que sim. Lá por o habitáculo ser diminuto não significa que não seja do maior respeito. Além do mais, é fruto do meu trabalho e da minha vida poupadinha. Passando galhardamente ao lado dos empréstimos bancários.

 

  

Esta última boutade de Belmiro

João-Afonso Machado, 20.03.13

Belmiro de Azevedo, por momentos esquecido, veio à ribalta falar um pouco de si e do seu contorverso ideário. Sem dúvida, é de hesitar como classificar a sua mais recente intervenção pública: se do mais refinado descaramento - o terceiro homem mais rico de Portugal augurando salários baixos para a generalidade dos seus concidadãos - se de lucidez qb e coragem bastante. Não porque se deseje sejamos um País de mão-de-obra impreparada e barata. Não, também, porque se deseje um País de mão-de-obra estéril, pelo menos enquanto não salta para o lado de lá das fronteiras.

E talvez fosse a isso que Belmiro se queria referir.

Evidentemente, choveram os protestos, vivemos, afinal, a ditadura do "politicamente correcto"; e o sindicalismo nacional logrou um lance de raro brilho para ressuscitar todo a loucura marxista-leninista. Ninguém os calará tão cedo, tal qual os saudosos tempos da "classe operária".

A verdade é que Belmiro tornará às delícias do seu mundo áparte. A Esquerda perseverará na sua caça às bruxas. A malta não deixará de engrossar manifs a pedir menos trabalho e mais salários - em nome da produtividade!...

E Belmiro (tiradas de mau gosto à margem) vai-se rindo com o panorâma. Não é que faça bem. Mas outros mais farão como ele: aqueles que trabalharam enquanto os outros reivindicavam.

 

 

De torna viagem

João-Afonso Machado, 18.03.13

Em redor do enorme terreiro da igreja eram as casas dos principais: ricos lavradores de uma lavoura que se estendia a perder de vista, mais o capitão da Milicia, o cónego letradíssimo, a prosápia envinagrada de quem se jurava Cavaleiro de Cristo, embora se lhe desconhecesse montada ou pecúlio capaz de um jeito nas telhas quebradas do seu telhado...

E um dia chegou ele, trinta anos após a partida, já um desconhecido, quem adivinharia naquele corpo cansado e torrado do sol, de patilhas grisalhas e casaca a suavizar-lhe a marreca, quem descobriria o mancebo que se fora de arca às costas (quantos teriam morrido, entretanto?) cismando brasis, colossais fortunas só em ecos vislumbradas, trabalho, aventura, o mundo por sua conta, o regresso, enfim, o opulento regresso desvastador da miséria dos seus?

No local preciso três décadas sonhado construiu o seu palacete ombreando em altura com a torre sineira da igreja lá em cima. Partira já, é claro, o cónego, levando no encalço o capitão, o cavaleiro apeado, os poderosos lavradores da sua infância. Conquanto de todos ficasse descendência num perpétuo rondar o Tempo à espera de fortuna contratada. De um apetecível dote, isto é. Aproximando-se, sornamente, escutando as batidas na pedra em que tão formidáveis paredes se erguiam.

Não casara, não fora pai, ninguém trouxera consigo. Mas uma sobrinha, uma afilhada, uma protegida, sempre lhe assistiriam na velhice e abocanhariam o naco mais gordo do ouro do seu segredo. Senão, para quê o palacete, o volume enorme onde talvez coubesse, inconfortável, o seu orgulho?

Sucede que a sua gente desaparecera. Levada pela doença, pelo infortúnio, pelas águas turbulentas do Ave, em indizíveis desgraças. Ou partira, também, rumando ignotos destinos. Na insana obsessão dos planos irrealizáveis, ainda assim rasgara os alicerces do casarão todas as noites sonhado. Já os olhos se reviravam de loucura e de outros males, sequelas dos ares tropicais em que suara as saudades do seu Minho.

Foi somente o espaço de concluir a portentosa edificação. O seu mausoléu, diziam depois os vizinhos, na triste danação face à inevitável posse da sua riqueza pelo Estado.

Era quando Santiago de Bougado ia ganhando em silêncio a paz que o lugarejo da Trofa perdia no banzé da proximidade da estrada para o Porto.

Decorreram vidas, gerações delas. O palacete está lá, onde sempre esteve. O mais, ignora-se. Talvez o regresso, o subir dos andares e o escutar do vento ajudem a esclarecer o que foi o que é agora (felizmente) um espaço de cultura da Autarquia.

 

 

 

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 17.03.13

Nessa época remota, os Cream chegaram à Praia da Leirosa, com o seu Disraeli Gears e muito psicadelismo. Vinha com eles, também, a guitarra de Eric Clapton e música que obrigava a pensar, eles apoiados nos ombros delas e elas nos deles. A faixa Sunshine of Your Love ainda se ouvia nas noites de passeio ao luar, lá para as bandas da escola, onde era costume montarem-se as tendas de campismo.

Depois sumiram, e só esporadicamente nos encontramos - sempre com a devoção de outros tempos.

 

 

No adeus ao Inverno

João-Afonso Machado, 17.03.13

A rotina no quartel é o entra-e-sai das ambulâncias, o cessa-e-começa dos piquetes; ou o ginásio e as aulas de dança, depois do horário de trabalho... A época pascal traz consigo outras efemérides, a fanfarra principia, por isso, os seus ensaios. E hoje foi à rua, em direcção à Matriz velha. Atrás dela o desfile, creio bem, das velhas guardas, a vez dos mais medalhados. Em farda de gala e solene marchar.

Era a missa dos Voluntários de Famalicão. Porque assim os intitulou El-Rei D. Carlos, - da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de V. N. de Famalicão. Manhãzinha cedo. E a cidade acordou com o ribombar dos bombos, espreitou à janela e desceu à porta, acompanhando a manifestação. Como sempre procedeu desde a derradeira década de Oitocentos, aquando da fundação da Corporação. Uns tantos por curiosidade; a maioria porque entre os que marchavam sempre se descobria uma cara conhecida, um primo, um amigo, alguém das suas relações.

No regresso ao quartel, após as solenidades, parecia já o triunfo dos césares. Seguir-se-ia o almoço de Páscoa dos Bombeiros. Vive-se muito destes abraços entre conterrâneos fora da impessoalidade dos grandes centros urbanos.

 

 

 

 

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