Aquelas imagens televisivas do episódio «Bola Preta» no Carnaval carioca foram de causar calafrios. Mais de 2 milhões de participantes comprimindo-se entre ruas suspeitas, o calor e o pânico, os desmaios, um carro da polícia como uma ilhota perdida na imensidão das gentes, pescando na multidão os casos mais desesperados, para os guardar a salvo no tejadilho... E pancadaria entre foliões, como se não bastasse, porque Carnaval há-de ser também esse género de confusão e o brasileiro é como a feijoada: não dispensa quaisquer ingridientes.
Por cá, nestes decalcados carnavais de Torres, Mealhada e outros que tais, o mau tempo obrigou a adiar o folguedo. Tem de ser, determina-o a economia local. Por incrivel que pareça, esses "entrudos" têm público e movimentam dinheiro. Razão bastante para que não se entenda o Governo e a sua fóbica anti-tolerância carnavalesca.
Porque, na realidade, vale tudo para que sobrevivamos. Nem a Igreja dirá o contrário, em vista das já anunciadas intromissões pagãs no período quaresmal.
A alternativa, de resto, é aterradora: lia-se hoje, também, que na Grécia se morre à fome. A informação não será completamente hiperbólica. Os gregos mantiveram-se fieis ao hino de contra os impostos - grevar, grevar, e o resultado está aí. Em forma de alerta aos portugueses: esqueçam lá as sereias sindicais, agarremo-nos ao que temos e façamos mais. Quem não gostar de quem nos governa escolha menos mau nas próximas eleições. E até lá, ovos e tomates pelo ar apenas no Carnaval.