Um dia talvez outra vez
Regresso à infância. Em plástico de brinquedos, o Opel Record era oco e vinha carregado de drops em muitas cores visiveis através da dentição da sua grelha. Em modelo a sério imperava então nas nossas estradas em tons assim gaiteiros. Estacionado em frente ao Garantia seria, com certeza, de mais um hóspede de longínquas paragens. O resto era o sinaleiro no cruzamento da Adriano Pinto Basto com a Santo António.
Mas não, reparo agora, o Hotel tinha charme, paredes impecáveis de limpeza e janelas espertíssimas de luz. Um porteiro no seu posto e a recepção destilava conforto e atenção, quase abraçando os recém-chegados. Não, não, - não é a Famalicão da minha meninice, quase julguei, ilusão do Opel, conservado em gelo. De resto o sinaleiro morreu há semanas. Não é, não. O Garantia dorme também o sono da morte, vendem-se sapatos onde foi o seu café, ignora-se o paradeiro dos cacos dos seus vitrais. Tudo é extinto em seu redor.
Quem sabe um dia?, assim como quem faz um clone de um mamute...