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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Das "Memórias de um Átomo"

João-Afonso Machado, 08.02.13

«Era uma escola em reboliço permanente, infernalmente ruidosa, e a vizinhança queixava-se. Por tudo e por nada, a rapaziada pegava-se, degladiava-se, sustentava o burburinho durante semanas e semanas de acusações recíprocas.

Era, diziam os mais perspicazes, uma boa escola de jornalismo. De facto, não tinham parança, os obreiros dos jornais de parede.

E dessa vez foi o Tozé Seguro a resolver implicar com o Pedro Passos porque não queria o Franquelim Alves na equipa de futebol. Não queria, e mais - exigia ao Pedro explicasse a toda a gente por alma de quem admitira o Franquelim.

Mas o Tozé tinha uns óculos enormes e um olhar choramingão. Por muito que se quisesse dar ares de valentão (como o Valentim de Gondomar), saía-se sempre com aquela cara pingona de a quem tinham roubado os berlindes.

Menos mal quando a malta do Bairro da Estrela ou da Praceta Cunhal Patrício, que também não gostava do Pedro, vinha em seu auxílio.

- Dá cá os berlindes, ó ladrão!

- Gatuno! Onde escondeste os berlindes?, Sim, tu, ó Pedro! Tu e o Franquelim.

- O Franquelim roubou os berlindes?

- Não, vai entrar na equipa e não sabe jogar futebol...

- E os berlindes?

- Quais berlindes?

Com o recreio em brasa e os transeuntes escandalizados com tal cagarim, o Franquelim foi chamado a explicar-se: afinal, roubara, ou não, os berlindes ao Tozé?

Roubara nada. O que ele gostava era de futebol e só queria jogar. A Imprensa desportiva já o apelidava de "empreendedor", "criativo", um "predador" na grande área. Daí a confusão...

Bom, haverá em tudo isto um certo exagero. Mas o rapaz, se calhar, até dá uns toques.

O mais são as invejocas do costume...».

 

(Com a devida anuência do meu Amigo J. da Ega, a quem muito agradeço).