Para além da efeméride
Já Portugal inteiro conhece as circunstâncias da tragédia. Há os loucos e a sua assassina índole. Há, também, o calculismo frio de quem prefere mitigar, se possivel esquecer. E há a Nação. Inconformada, mas calada. Paradoxalmente resignada.
Sobretudo, há o Futuro: essa marca iniciada em 1 de Fevereiro de 1908, de que é impossivel conhecer até onde se estenderá. Até porque o Futuro, bruxedos à parte, é sempre imprevisivel.
Em bom rigor, somente podemos hoje afirmar que o bárbaro fusilamento d'El-Rei D. Carlos e do Príncipe Real foi a porta aberta para quantos homicidios políticos se lhe seguiram, vitimando personalidades de apreço, monárquicos ou republicanos, mais da Direita ou da Esquerda.
E o macabro episódio de 19 de Outubro de 1921 lá está para o confimar. Quando a República antropófaga comeu a ala mais nobre dos seus fundadores.
Prossigamos, inventariando os misteriosos desaparecimentos de figuras de proa da Oposição na II República, consulado de Salazar...
Sem esquecer, é claro, Sidónio Pais, Sá Carneiro, Amaro da Costa...
Portugal, um país de "brandos costumes"? Sim, na forma como julga os prevaricadores. Jamais como herdou e vem mantendo a tradição matadora que a Europa rejeitou ao ultrapassar o romantismo oitocentista, optando pelo modelo civilizado da convivência das ideias e das convicções. E chamando ao mais - "terrorismo".