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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Bento XVI - o sentido de um pontificado

João-Afonso Machado, 28.02.13

E assim terminou o pontificado de Bento XVI: na forma inesperada, rara e quase inédita, misteriosa como tanto do que compõe a vida na Igreja Católica. Mas, decerto, não obra do acaso ou de um capricho. E muito à margem das habituais especulações de quem lê os designios de Deus pela cartilha das manobras dos políticos. Ou seja: sempre farejando o escândalo.

Assim mesmo, Fátima Campos Ferreira entrevistava um sacerdote português no Vaticano. No tom mais ansioso a atreito ao sensacionalismo. Interrompendo - Fátima Campos Ferreira não consegue aprender - palavras serenas, invocativas do Espírito Santo, sorridentes de confiança no Futuro, com perguntas menores sobre "casos", mormente o mais "saboroso", o da pedofilia.

Riem-se os crentes: como se um sucessor de Pedro recuasse perante essas lamentáveis ocorrências, fugisse delas, evitasse combatê-las...

O tempo passa, o Santo Padre despede-se, a mensagem parece cada vez mais clara: a resignação, com raizes históricas antigas, hoje quase uma "lança em África", não custa acreditar seja um exemplo que fique. Por isso, propositadamente praticado. Pela energia que carecerá aos mais velhos para enfrentar os grandes problemas globais. Em África, justamente, - e por exemplo.  

 

 

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 27.02.13

https://youtu.be/rB6OlJqV1rQ

No dobrar dos 70´s era assim. Com a Lewis muito coçada, a bota militar comprada na Feira da Ladra e os santuários da música ali para os lados da Avenida de Roma, em Lisboa. Onde conseguem chegar os minhotos!!! Não eramos de cabeleira comprida, escorrida, somente despenteada. Mas os blues significavam uma devoção - e, em vão, tentávamos divulgá-la. Contra o império da «música comercial». Peter Allen e quejandos ganharam sempre.

Ficou o amor às causas perdidas. Quando Alvin Lee veio tocar a Portugal foi a desforra. Inesquecivel espectáculo!!! Ten Years After!

 

 

Quem diria?

João-Afonso Machado, 26.02.13

A praia que o Verão repele, o nosso Verão, claro, porque, justamente, a praia regorgita de gente, de barracas, e uiva o vento e uivam milhares e milhares de criancinhas, urram os adultos, uma multidão inteira. É a Póvoa de Varzim, os seus famigerados farneis, a coxa de frango mais vulgar ainda que a concha do mexilhão.

Mas agora é Fevereiro. Como se vê e se goza. Fossemos nós gaivotas, em férias o ano todo e sempre sem frio...

 

 

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 24.02.13

A festa estava no auge. À luz da vela, somente. Mas a aparelhagem era já um portento de força e, ia jurar, Jon Anderson, estava lá dentro. Foi a noite da Joana, unanimemente a mais bonita de todas. E o slow, demorado, muito em volta do pescoço, das bochechas dela. Algumas mamãs chocaram-se com aquele dançar estático, apaixonado, com anos e anos de vida pela frente. Que "não havia direito", "era uma imoralidade"... 

Seria?  Não haveria «one reason to be here»?

 

 

Procura-se

João-Afonso Machado, 24.02.13

A decisão de envelhecermos na nossa terra é humana, talvez a mais condigna de um bom filho. No meu regresso à vila da minha adolescência, onde o  centro das nossas andanças é agora o centro da cidade que inexistia quando parti, tratei - continuo afincadamente a tratar - de encontrar poiso que me satisfaça. Enfim, que nos satisfaça, torres à margem, lugar de gatos, pombos, lagartixas e o mais que afugente baratas tontas, porque para as outras existe o spray e ausência de quem morra apavorado.

Mas é difícil! Vão lá poucos meses, o edíficio térreo dos meus sonhos mostrava todos os sintomas de decadência. Mas, num ápice, crescera, esbranquiçara, ganhara acesso automóvel em plena rua pedonal. E a bolsa, aqui no meu bolso, parca, limitada, incompetitiva. Outra que se vai, tão à distância do meu poder de tiro.

A solução estará na persistência. Já descartei a hipótese da greve de fome à porta da Câmara Municipal, unicamente porque me parece sobremaneira desagradável morrer -  à fome, ao frio... e ante a indiferença e a risota da comunidade, ainda por cima.

A busca continua, pois. Dê para onde der, duas certezas: liberdade e independência, acima do mais; e a nossa casa é a nossa obra - criada ou suportada, por isso, unicamente com o produto do nosso trabalho.

E nos dias que correm... é como antigamente, na feira do gado - atilho desapertado e notas à vista. Com bancos é que jamais. 

Eu sei: vai ser mesmo muito dificil.

 

Mécia vem aí

João-Afonso Machado, 23.02.13

Sabes, talvez venha já dentro de um mês. Nasceu ontem. E é assim de boa raça, como tu. Com os circuitos todos ligados para as codornizes e as perdizes e as galinholas. Pelo menos, foi-me prometido.

Viverá uns tempos aqui na cidadezinha, até se juntar a ti. Quero-vos amigas e sempre emparelhadas. Boas caçadoras, boas mães, boas filhas deste vosso pai que muito pouco mais tem.

Quanto a ti não desperdiçaremos a próxima oportunidade. Temo-lo apalavrado, aqui bem perto, rapaz sério, trabalhador aplicado, experiência nas perdizes de quase onze anos.

Vamos ser muitos. Vamo-nos espalhar, vamos exibir a vossa classe por esse País fora. Há coisas indestrutíveis como o sangue que vos faz superiores e a nossa capacidade de passar ao lado da mesquinhez.

Faremos história. Essas as pedras em que assenta a nossa prosápia. De mais não precisamos para sermos quem somos, tão acima das paredes e dos hectares.

 

Machado Fm

João-Afonso Machado, 22.02.13

Em 1976 mandava a Donna Summer. Por muito que, nós outros, quisessemos sonoridades mais elaboradas. Nada feito! Mas, no intervalo das corridas, na sua janela em frente ao "S" do circuito, o Pai do Duarte, cavalheiro conhecedor da boa música e senhor do seu pick-up, oferecia-nos Booker T, depois da prova do Grupo 2 e enquanto esperávamos pela dos Sport Protótipos. E dançava, em cima do sofá, esperando o disparo da partida. Saudosa Vila do Conde...

 

 

Um minhoto na Capital

João-Afonso Machado, 21.02.13

Fui descobri-la verdadeiramente desanimada. Sentada à borda de água, com ar de quem via a Barca do Inferno. Mas, justamente, era mais um dia de greve. A sua viagem à outra banda já não seria.

- Bandidos! Gatunos!

Tentei acalmá-la, não era prudente aquela linguagem. Ainda ontem um grupo de democratas assim apelidara um Ministro e

- Olhe, a prestar contas na Policia. Identificados e sabe-se lá que mais...

Ripostou com aquela fúria tanto do meu apreço. Uma coisa era insultar um Ministro em plena conferência, outra este seu desabafo, carregado de sentido, não?

- Quer-se trabalhar, precisa-se trabalhar, e estes mariolas - ainda por cima os que ganham mais - fecham-nos as rotas com as malditas greves.

Confesso, não percebi (nem quis perguntar) que raio de trabalho fora ela arranjar na margem de lá. No local onde menos provavelmente se trabalha, salvo o exercício profissional da greve com intuito lucrativo. E logo me vieram à ideia os metalurgicos da Lisnave e o cerco da Assembleia e o desgraçado do Olívio França, que era do PPD e lá do Norte, já de provectissima idade, a cair de fraqueza e nervoseira, conduzido ao hospital, enquanto os manifestantes passavam coxas de galinha assadas aos deputados do PCP... Irra! Para essas bandas do Demo, jamais!

Mas ela insistia

- Ladrões! Se não se querem cansar, demitam-se. Vão-se embora que não falta quem...

E debalde lhe explicava estava a dois passos da detenção. Há coisas que se não admissiveis de chamar a um Ministro, muito menos a um comunista, queria dizer, a um democrata de gema. Ela não me ouvia. Não entendia o especial estatuto desses iluminados. E eu, olhando em redor, já temia o aproximar de algum deles, de pau em riste em defesa da greve contra o reaccionarismo fura-grevista.

- Preguiçosos! Mandriões! Chulos!

Já da outra ponta do cais se avizinhava um ser hirsuto, alentadíssimo. Meu Deus, não é que o reconheci, da reportagem da semana passada frente a S. Bento? Um dos mais visiveis, na linha da frente, à pedrada a tudo quanto mexia?

E a meia-voz, apenas para poupar a minha desbocada amiga a um embaraço maior, entoei então: Grândola, vila morena terra da fraternidade / o povo é quem mais ordena... - e por aí fora, até o gorila, resfolegando bravamente, desconfiadamente, tornar ao seu poiso, enfim.

 

 

"Like a rolling stone"....

João-Afonso Machado, 20.02.13

Há um momento, na deslocação do Ministro Relvas ao Clube dos Pensadores, em Gaia, sem dúvida de máxima importância. Se calhar, todos repararam: confrontado com a desafinada "Grândola" cantada pelos manifestantes, o contemplado, sem se desmanchar, fez-se voz da mesma cegarrega e concluiu aplaudindo a serenata; obviamente contrariados pelo seu fair-play, os revolucionários de pacotilha logo partiram para o insulto - "fascista, fascista", "gatuno, gatuno".

Volvidas 24 horas, similar episódio com o Ministro Macedo, em Medecina no Porto. Ainda a famigerada "Grândola" tocada a berros por quatro - apenas quatro - revolucionários de encomenda. Um dos quais rouquejou depois algumas palavras indecifráveis, sempre a coberto do silêncio comprometido e envergonhado - timorato e cobarde - de uma sala inteira.

E não nos dispersemos agora sobre o episódio mais violento verificado no ISCTE. António Barreto já disse o devido acerca dele.

A Esquerda está na rua. Nos anfiteatros, melhor dizendo, em espaços diminutos onde faz por parecer maior.

Foi assim em 1975. Resta acrescentar que foi - porque a tibieza dos presentes deixou ser.

Importante é não esquecer que os atropelos esquerdinos nessa altura mataram eleitoralmente a força comunista de então. Não ocorrerá o contrário agora. Daí a demarcação a que já se assiste, por parte do PS, relativamente aos acontecimentos mais recentes. Num discurso dúbio, duas à direita, uma à esquerda. A capitalizar votos, esses capitalistas de avental!

 

 

Do sempre

João-Afonso Machado, 17.02.13

Enfim descobri algum benefício das horas macabras da Matemática, depois das trivialidades da Aritmétca, em que somar, subtrair, multiplicar e dividir sempre dão algum jeito. Foi nessa teorização das semi-rectas, quase um lumeiro de vida, a gente sabe de onde e quando parte, somente não sabe o local da chegada. Entre a exactidão e a meta, percebe-se resistir a esperança, muito acima da descontracção. Porque os anos nos fizerarm - descontraidamente - alvoroçar por certezas. Ao menos um ponto de partida, mais a fé na chegada. A corolar o segmento.

Abriram-se portas, tantas vezes depois fechadas. Frouxo andamento das linhas sem curvas. Décadas assim. Até à crença no ponto de continuidade, o rasto indelével para o de um fim que não acreditamos o seja. A Metafisica tinha acabado de vincar os seus parâmetros.

E assim, entre o indiscutivel  e a hipótese, se firmou essa palavra traiçoeira - duas sílabas carregadas de desventura,  de felicidade, porventura: sempre!

Amen!

 

 

 

 

 

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