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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O dia depois

João-Afonso Machado, 05.12.12

Uma generalizada sensação de terror invadia o Portugal na manhã de 5 de Dezembro, há 31 anos. Horas antes a notícia caira como uma bomba, já na recta final das segundas eleições presidenciais da III República: Sá Carneiro, Amaro da Costa e os seus acompanhantes, todos haviam morrido na queda implacável da avioneta em que viajavam. Em Camarate, um local, de imediato, associado a uma firmíssima convicção de atentado, sabotagem.

Mário Soares e os demais esqueceram o "Sá Caloteiro" de comícios e pichagens recentes e discursaram os méritos do político e do patriota. Quando a vergonha se perde tudo não é de espantar.

E a maioria dos portugueses chorava a violência da tragédia, as perdas humanas, e angustiava-se ante a clara percepção de que o País nunca mais seria o que ansiosamente esperavam viesse a ser.

Sá Carneiro e Amaro da Costa eram dos muito pouco políticos a escapar ao nível incontornável da mediocridade que tem perspassado as figuras de Estado. Mesmo porque, com eles, outros de parcas vistas e baixos voos conseguiam apresentar resultados e disfarçar a sua impreparação. Veja-se o exemplo de Cavaco Silva...

Freitas do Amaral, na ciscunstância foi igual a si mesmo: falou. Solene e catedráticamente. E nada mais.

Sobreveio a indecorosa impunidade de um crime (e dos respectivos agentes) durante décadas apelidado de "acidente". Para se descobrir, finalmemte, - decorrido o necessário tempo das descobertas tornadas inúteis - que sim, houvera bomba, explosão provocada, tudo porque Amaro da Costa destapara um qualquer negócio "aventaleiro" de venda ilicita de armas de guerra. E antes que a "guerra" - o escândalo - rebentasse...

Na manhã de 5 de Dezembro de 1980 via-se de tudo: hipocrisia, contentamento (ao menos) não disfarçado e o transe dos muitos - dos cada vez mais - que percebiam Sá Carneiro e Amaro da Costa com os fautores de um futuro de que Portugal precisava e merecia. Mas definitivamente comprometido.