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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

"Sem medo"

João-Afonso Machado, 07.11.12

Toma lá um vocábulo matinal: - sem-medo!

Esse mesmo, sem medo de o tomar.

 

Guarda-o quedo

entre o corpo e a alma

onde também eu o fui guardar.

 

E dá-me a mão.

A palma muito aberta,

a inscrição – não morreu!

lavrada em letra certa

 

na palma da tua mão

à minha colada,

não morreu!, não morreu!,

 

vida minha, vida tua,

longa rua a correr

sempre sem medo do amanhecer.

 

 

 

 

 

No Pulo do Lobo

João-Afonso Machado, 06.11.12

O nome salta Portugal de lés-a-lés, mesmo refugiado naquele fundo onde o Guadiana se aperta, quase sufoca e ruge de dor entre pedras e arestas.

Entre a espuma, o lunar e o inacreditável. Na cor e na espantosa proximidade de duas margens afinal muito mais próximas se mantivessem distância a comedir o furor das águas. 

É o possivel impossibilitado pelo bom-senso. O impulso que a prudência impede de tomar. Paisagem somente, um inesquecivel momento de Natureza. E a usual romaria de gentes, talvez mesmo o secreto desejo de um qualquer Gil Eanes neste Atlântico, no abismo deste Bojador. De que Adamastor será o Pulo do Lobo valhacouto?

À medida de um pedaço de bambu, torna-se claro: in illo tempore, ia-se, vivia-se lado a lado com a morte; hoje contemplamos e assim morremos, tão às vezes sem viver.

 

 

Soares deve ter caido da cadeira

João-Afonso Machado, 04.11.12

O Governo tomando a iniciativa de se demitir; umas eleições sequencialmente não convocadas (para não obrigar os socialistas a ganhá-las e assumir funções executivas); e o Presidente da República incumbido de encontrar sucessor para Passos Coelho, de modo a que a Esquerda possa continuar, livre e impunemente, o bombardeio politico da Direita - eis, em síntese, a solução para a crise preconizada por Mário Soares na sua mais recente entrevista ao DN. Ou na sua mais recente demonstração de como continua a confundir o interesse nacional com os interesses pessoais do seu PS. Tocando, desta feita, as raias da infantilidade e deixando no ar a suspeita de que também ele, Mário Soares, caiu da cadeira, em qualquer ensolarada tarde de Nafarros, e bateu com a cabeça no chão.

Seria caso, apenas, para lamentar o seu periclitante grau de saúde, não ocorresse a Imprensa insistir em prestar-lhe vassalagem, escutando-lhe a tolice e as suas diatribes, tal qual há quase 50 anos fazia crer a Salazar ainda estar firme na condução dos negócios de Estado. O "S" destes longevos homens da Política tem, na realidade, muito de suástico.

 

 

Em Mértola

João-Afonso Machado, 04.11.12

Ou lenda ou galardão... - mas dizem os de lá ser Mértola o paraíso das perdizes. Algo que principiará numa maternidade de luxo e prossegue no rodopio de uns ventos benfazejos, o clima benquisto, a alimentação sobejante, terra sem fim à vista... Tudo é definitivamente bravio e isso é para eles ponto de honra.

Mértola fica muito longe mas há convites irrecusáveis e inesquecíveis. Aconselhavelmente vai-se de véspera e adormece-se com a quietude do Guadiana. Não sem antes, todavia, medirmos todos os passos a que distamos da artificialidade do mundo urbano. Onde tudo são cuidados com uma Natureza desconhecedora do betão, mais do que com os desabrigados que buscam abrigo nas derradeiras sobras desse mesmo betão. 

(O Sr. José Claudio vê os tractores com os mesmos olhos com que outros encaram os computadores - estripadores de mão-de-obra. Não fora a caça e a sua profissão de guia, calhava-lhe o desemprego. Em Mértola não há indústria. Há o turismo, quase só os caçadores...)

 

 

Rumo ao Alentejo

João-Afonso Machado, 01.11.12

Parto exactamente com a esperança de me perder de olhares por lá e não mais conseguir regressá-los. Parto com o espírito corrido de lebres e coelhos e de todas as emoções das imagens. Depois de muito tempo, o Alentejo não será apenas uma passagem rumo a uma jornada breve. Haverá estradões e o Guadiana, mais a alvura das casas e a dança dos animais das grandes planicies, todas as inimagináveis histórias de uma máquina fotográfica.

Era justo fosse hoje. Que outro dia para atravessar o Alentejo e despertar o sangue que ainda mantenho de alentejano? Decerto revendo a Avó que nunca conheci e as minhas ignotas raízes do Crato e de Borba... Como se lhe enfeitasse a alma com duas papoilas para sempre bem vivas.

Oiço daqui a turbulência do Pulo do Lobo vinte anos depois. Memórias obrigatoriamente envoltas em neblina, urgindo reconquistá-las. Vou.

 

 

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