Casas de Portugal
Quando estudante em Lisboa, em outro milénio, era a Casa do Minho, a noite de S. Martinho, muitas castanhas e água-pé. E os amigos, os primos, os parentes, gente de Ponte de Lima, da Barca, de Guimarães, de Braga, um abraço enorme sempre carregado de saudade da nossa terra. Quase como se fosse cá, entre castanholas e concertinas. Uma festa, uma emoção enorme, uma desgraça...
Não vai muito tempo descobri em Lisboa a Casa dos Arcos de Valdevez, vizinha da Sé. Saltei os muitos lanços de escadas, rapaziada minha, saia uma malga de tinto, - mas... os arcoenses lisbonados dormiam ainda!
Depois fui descobrindo outros nichos de identidades que se querem perdurando. Convergindo contra a maré dispersora das grandes metrópoles. A derradeira foi a Casa da Comarca da Sertã, bocado de terra portuguesa, bem portuguesa, encravada a meio caminho do território continental, onde o xisto ainda espreita por cima o cimento e o mau-gosto. E onde fui recebido de braços abertos.
Tratava-se de apresentar um livro meu. É certo, tenho raízes familiares nesse canto felizmente esquecido da multidão - e infelizmente esquecido dos portugueses que gostam, estimam e preservam Portugal. Mas, facto é, logo no primeiro instante senti-me em casa. Rodeado pelos meus. E assim não podia calar a percepção de essas - às vezes - despercebidas entidades onde no mundo das massas se reencontra a essência de cada percurso, cada destino.
Como, à margem do signo da incognitude, não saborear a proximidade dos nossos - de tudo o que é nosso: os familiares, os parceiros, os sabores, mesmo os aromas em que nascemos, crescemos e já precisamos para viver?