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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A galinhola, maldito seja eu

João-Afonso Machado, 10.11.12

Desculpa, Tareja, a minha azelhice. Era a tua primeira galinhola. Bem marrada, levantada a preceito naquele voo curto poisado quase a meus pés. Eu a olhar para ela, a ver-lhe as formas, o inconfundivel bico. Hesitante, espreitando-me a medo, optou por novo arranque, a rasar o verde humido destas manhãs de Outono. Deixei-a alargar-se e foi o disparo. Com a prontidão com que agora escrevo de rajada, esmagado de vergonha. Sobretudo porque, claramente, a "dama" não caiu, apenas aterrou entre a vegetação densa e nós dois - lembras-te? - a subir, marcado o sítio, a correr encosta acima, talvez restasse ainda uma oportunidade...

Mas não. Nem tu nem eu soubemos mais da galinhola. E tanto queria apresentar-ta! Tê-la nas mãos, colher duas ou três penas, memória histórica da ave rara, e encher-te de consolo com o cheiro de um quase-mito. Mas falhei! Imperdoavelmente falhei. Por isso me calo. Pelo trofeu perdido, pela lição que me deste a troco de uma minha que não recebeste.

Desculpa Tareja. Ainda vou pensar se voltarei à caça. Tu mereces mais e melhor.