Memórias vilacondenses (XV)
Em 1971 surgia uma nova modalidade no Circuito: o Troféu Datsun. Carros todos do mesmo modelo - o imparável 1200 - em rigorosos parâmetros de idêntica preparação mecânica. Não havia nem melhores nem piores, valeria somente a perícia dos pilotos. O resultado desenhou-se catastroficamente entusiasmante.
Eram máquinas cuja potência ultrapassava de largo a sua estabilidade. Levezinhas quanto endiabradas. Os Datsun 1200 voavam. Para a esquerda ou para a direita e sobretudo por cima dos fardos de palha postos de maneira a evitar acidentes maiores. Foi um sucesso! Na curva do Praia Azul, no "S", era vê-los às turras, em piões alucinantes, despistes de arrepio...
Não creio tenha havido competição mais empolgante. Facto macabro da Revolução abrilina, em 1975 o Troféu Datsun finara-se já. Mas a gente de Vila do Conde jamais o esquecerá.
Não sei se por isso, também a Tia, em 1979, comprou o seu Datsun. Azul escuro, duas portas, em segunda mão. Lindo! E desenvolto. Andava que se desunhava.
A Tia não era famosa em pista. Especializara-se em ralis, mercê de tantos anos nas picadas de Mouquim e S. Tiago da Cruz. Aí sim! - fumegava sobre o cascalho. De modo que o grande recorde em velocidade do seu fenomenal Datsun foi batido pelo sobrinho. Nesse fim de tarde com a Prima Balocas, como pendura, aos berros
(- Mais devagar! Mais devagar!),
em que o Datsun atingiu na marginal de Vila do Conde (confesso, uma vez prescrito o inerente procedimento criminal) os 120 km/h, o volante nas mãos de um descartado.