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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Memórias vilacondenses (XV)

João-Afonso Machado, 07.11.12

Em 1971 surgia uma nova modalidade no Circuito: o Troféu Datsun. Carros todos do mesmo modelo - o imparável 1200 - em rigorosos parâmetros de idêntica preparação mecânica. Não havia nem melhores nem piores, valeria somente a perícia dos pilotos. O resultado desenhou-se catastroficamente entusiasmante.

Eram máquinas cuja potência ultrapassava de largo a sua estabilidade. Levezinhas quanto endiabradas. Os Datsun 1200 voavam. Para a esquerda ou para a direita e sobretudo por cima dos fardos de palha postos de maneira a evitar acidentes maiores. Foi um sucesso! Na curva do Praia Azul, no "S", era vê-los às turras, em piões alucinantes, despistes de arrepio...

Não creio tenha havido competição mais empolgante. Facto macabro da Revolução abrilina, em 1975 o Troféu Datsun finara-se já. Mas a gente de Vila do Conde jamais o esquecerá.

Não sei se por isso, também a Tia, em 1979, comprou o seu Datsun. Azul escuro, duas portas, em segunda mão. Lindo! E desenvolto. Andava que se desunhava.

A Tia não era famosa em pista. Especializara-se em ralis, mercê de tantos anos nas picadas de Mouquim e S. Tiago da Cruz. Aí sim! - fumegava sobre o cascalho. De modo que o grande recorde em velocidade do seu fenomenal Datsun foi batido pelo sobrinho. Nesse fim de tarde com a Prima Balocas, como pendura, aos berros

(- Mais devagar! Mais devagar!),

em que o Datsun atingiu na marginal de Vila do Conde (confesso, uma vez prescrito o inerente procedimento criminal) os 120 km/h, o volante nas mãos de um descartado.

 

 

 

"Sem medo"

João-Afonso Machado, 07.11.12

Toma lá um vocábulo matinal: - sem-medo!

Esse mesmo, sem medo de o tomar.

 

Guarda-o quedo

entre o corpo e a alma

onde também eu o fui guardar.

 

E dá-me a mão.

A palma muito aberta,

a inscrição – não morreu!

lavrada em letra certa

 

na palma da tua mão

à minha colada,

não morreu!, não morreu!,

 

vida minha, vida tua,

longa rua a correr

sempre sem medo do amanhecer.