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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Louçã entre os seus

João-Afonso Machado, 30.10.12

Assim falou em entrevista à Lusa: aconselhando o seu «primo direito» Victor Gaspar a não aceitar o convite para Ministro das Finanças, «porque o esperava uma "alhada monumental"». Quem? - nem mais do que Francisco Louçã.

A pertinente pergunta é - porquê tão paternalista recomendação? Conheceria Louçã, de antemão, as opções estratégicas a tomar pelo seu parente? Ou - hipótese mais provável - pretenderia avisá-lo da cruz onde a Esquerda, os sindicatos e uma opinião facilmente promovida a "pública" o crucificariam?

Contas finais: tão eivado de patriotismo e espírito cívico, estaria Louçã - caso lhe consentissem tal - disposto à «alhada monumental» de assumir a Pasta das Finanças deste Portugalito?

 

 

Campeões de bancada

João-Afonso Machado, 30.10.12

O ribombar dos motores dá o mote, vindo ainda de longe da visão. É quando o cigarro acelera na boca e se fala em "cavalagens", "rotações", "espectáculo!". Há muita excitação no ar poluido, um frenesim de pernas. Ansiedade. A máquina não tarda aí, os olhos revolvem-se, brilham, e os prognósticos, os juízos técnicos, multiplicam-se. Quanto a indumentária, o colóquio não diversifica: o boné "à Lauda", o blusão carregado de dísticos automobilisticos, as sapatilhas... E um tratamento familiar com que se vai festejando a passagem dos concorrentes

(- É o Quico! Força, Quico! Dá-lhe gás!,

para invocar o malogrado Clemente Ribeiro da Silva, glória nossa da Década de 70, desgraçadamente morto por atropelamento em plena pista).

Os fanáticos das corridas de carros são assim. Eles e uma panóplia de gestos muito próprios, coisas de braços e esgares que pretendem exprimir a virtuose do maneio da alavanca das "mudanças", a música dos cilindros ou o baque das suspensões. A velocidade dos sonhos e dos bólides.

Depois é a linguagem e a sinalética. (O trabalho que me deu decifrar a expressão - "sacar uma faniqueira", concluido, enfim, quando soube desse outro designativo da corda com que se faziam girar os piões...). Mais a ciência e a avaliação dos dotes dos preparadores mecânicos, debitada sobre as pernas de quem ainda não viveu além da bicicleta ou da motoreta.

Um implacável tribunal, um juri constituido por assobios aos prudentes e por aplausos aos temerários. Porque as corridas automóveis são, sobretudo, o aparato, a batidela, o despiste. Gasolina e adrenalina.

- Vrum, vrum, vrum!...

soltam-se os pedestres  com o "pé na tábua" a fundo em quimeras e megalomanias. Entre "bocas foleiras", incentivos aos heróis e gargalhadas alvares. Por vezes no circuito, em regra à mesa do café.

 

 

Assim se combate a "crise" também

João-Afonso Machado, 28.10.12

Vai na sua sexta edição, a «Super Especial» automobilistica em percurso urbano famalicence. Esta tarde. As ruas da cidade encheram, o comércio local rejubilou. A organização pertence à Câmara Municipal e conta com o apoio de entidades e patrocínios diversos. É, obviamente, uma forma de dinamizar a urbe e a sua organização empresarial. Com recurso a um desporto com vasta adesão entre as gentes da terra.

Tema, pois, que de pacífico só não tem o barulho dos motores. Porque é matéria a que a Oposição não se opõe, assim circulando livremente nos corredores e anfiteatros da edilidade.

 

 

É nossa, é minhota!

João-Afonso Machado, 27.10.12

A biografia traça-se de uma penada: a locomotiva 02049, da fabricante britânica William Fairbaim & Sons, nasceu em 1857, um ano após a primeira viagem ferroviária em Portugal (de Lisboa ao Carregado). É a mais antiga existente em Portugal, tendo iniciado os seus serviços em tais aventuras entre a Capital e Santarém. 

Viria a ser vendida à companhia Caminho-de-Ferro do Minho e Douro, ainda na altura em que esta estendia carris, e, por volta de 1882, recebia por baptismo o nome de "Este", alusivo ao afluente do Rio Ave que vem de Braga e atravessa o concelho de Vila Nova de Famalicão. Em 1931 ainda não se reformara, somente fora carinhosamente crismada de "Andorinha".

Esse o seu actual nome. Repousa em Nine, estação onde ocorre a bifurcação da Linha do Minho e do ramal bracarense. E onde consta pretenderem levá-la para o museu do Entroncamento.

É a guerra! Porque o Entroncamento há muito está prenhe de fenómenos e não precisa de mais este. A "Andorinha" é nossa! - proclama-se em terras vizinhas do berço da Maria da Fonte. E as gentes armam-se para combates realmente justificados.

Hoje mesmo a manifestação foi exuberante, junto à cocheira onde a "Andorinha" se resguarda. Tenhamos atenção ao evoluir das tropas no terreno.

 

 

Antes, durante e depois

João-Afonso Machado, 26.10.12

Talvez os caminhos sejam outros agora. E nada mais sobre de verdadeiramente útil além da memória. Mas esta é muito, tanto quanto todos os nossos sentidos bem despertos.

E por isso ficam as cores e os aromas. Mais a travessa enorme em que a nossa alma sacia o seu paladar e nos toca e nos diz vivos. Assim o campo se fez a orquestra de todos os ritmos da Natureza. Debaixo de uma chuva torrencial, no mesmo tom em que cadenciou o sol mais aceso.

Doi muito a percepção da harmonia a dois dedos do nosso alcance, dois terriveis e - às vezes - inalcançáveis dedos... 

 

 

 

Dias mais azuis virão

João-Afonso Machado, 25.10.12

Não poderá ser de outro modo, dias mais azuis virão. Com uma tonalidade capaz de se sobrepor às cores próprias de cada estação, realçando a riqueza própria de todas elas. Mesmo quando, como hoje, o frio se instala e convida ao recato. Ou a outro tipo de produtividade. Não haja escusas. O caminho faz-se caminhando, para usar um lugar-comum. E o estar suspenso mais não poderá ser senão uma ilusão - nem sequer uma fracção de segundo num tempo que é de todos e contra cujos malefícios todos temos de lutar.

Porque a invernia já não serve de desculpa. Mesmo sob chuva, os tractores continuam a lavrar a terra. Antes que a terra, de tão empapada, ceda ao seu peso.

Agindo assim, é de crer consigamos. Nem de outro modo a lareira alcançaria o paladar de um merecido serão.

 

 

 

Altas cilindradas

João-Afonso Machado, 23.10.12

Era uma indústria de sonhos, com todo o grotesco em que a realidade se pode camuflar e revelar. Assim na indumentária, na falta de tesoura no cabelo... Por todos os primeiros anos da Década de 70, tentando furiosamente derrubar o muro, não tanto para sair quanto para deixar o mundo galgasse as nossas fronteiras, conforme o viamos e ouviamos em Londres, Paris, na América...

É a única possivel explicação para as Chopper's. Coisa mais desajeitada dificilmente se inventaria. Sem sprint, sem firmeza no guiador para deslumbrantes "cavalinhos", sem lugar no quadro ou no selim para a namorada... E, todavia, circulando por aí, sempre espaventosas, quase troando dos escapes... mas apenas na total planura das pistas.

Talvez porque, na marginal da praia, nos transportasse até Miami. Ou à costa californiana, num arranque de imaginação com combustivel para toda a Route 66.

"Riders on the storm/ there's a killer on the road", cantarolava-se baixinho, pedalando nos vagares do passeio, entre dois toques de campaínha a avisar os transeuntes. Apenas em fato-de-banho, com a toalha aos ombros. E a barriga a dar as horas do almoço.

 

 

Eça em vésperas da discussão do OE

João-Afonso Machado, 22.10.12

No seu habital comentário de domingo, o Prof. Marcelo disse ontem, mais coisa, menos coisa, o Governo era essencialmente Victor Gaspar e a devida cobertura que lhe garantia Passos Coelho. O que dá conta da relevância do Ministério das Finanças no complicadíssimo momento em que vivemos; e da importância daquele homenzinho de falar monocórdico, investido político em data recentíssima e ultimamente apelidado de intransigente, casmurro, obsecado.

Como Gaspar não parece seja suicída, nem homicida, nem genocida, é de supor acredite piamente no "plano de salvação" que engendrou para Portugal e tão contestado tem sido.

Enfim, a discussão parlamentar do OE promete! E como as grandes situações de crise recomendam sempre a cautelar leitura dos grandes Mestres, aqui fica, a propósito um excerto de As Farpas do nosso intemporal Eça:

«As declamações têm tirado à democracia o seu caracter privativo de realidade e de ciência. Temos ouvido cantar a democracia, metrificá-la, soluçá-la: é tempo de a vermos demonstrar: deixemos no bilheteiro a nossa perpétua inclinação nacional de escutar odes - entremos só com a tendência humana de resolver problemas».

 

 

Amanhã há codornizes

João-Afonso Machado, 19.10.12

Não é ano de grandes deslocações. Não há meios que o consintam. E manda a prudência nos deixemos ficar pelas redondezas, cortando cerce nas despesas. Qual ceifeira em milho pronto, abrindo caminho às codornizes.

Melhores tempos virão, acreditemos um instante. Para já, a alegria dos cães - poupados ao incómodo das viagens em condições de muito duvidoso conforto - o seu trabalho nas várzeas entretanto despidas. E - não será pedir muito - alguma inspiração na mira. Uns tiritos bem aplicados. A codorniz é um excelente petisco, assada, frita ou estufada, e sempre sem IVA.

 

 

 

 

No que ele se foi meter!

João-Afonso Machado, 18.10.12

Francisco Van Zeller, durante anos dirigente da Confederação da Indústria Portuguesa, lidera agora a "comissão especial de acompanhamento da reprivatização" dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). Ou seja, talvez não por absoluta necessidade de sobrevivência, aceitou em mãos um berbicacho dos mais umbricados em parada. Deve ter feito mal, e pior ainda ao decidir dizer em voz alta verdades provavelmente verdadeiríssimas.

«A mão-de-obra é antiga, desactualizada e habituada a maus hábitos. Tem um sindicato comunista muito violento que está enquistado na empresa» - declarou à sua chegada aos ENVC. E o mundo laboral - esse conceptual feudo da Esquerda - entrou em convulsão. Até a Direita vassala do "politicamente correcto" se retraiu - conversas dessas no café, vá lá, agora em público...

Porque a mão-de-obra não é antiga, embora (conforme um responsável da Comissão de Trabalhadores) sejam muitos os com mais de 40 anos de casa. O que, só por si, lhes conferirá um óbvio certificado de know-how... E porque, de um modo geral, nada se passa nos ENVC. Conquanto se reaja contra a privatização e, simultaneamente, se proteste a falta do pontual pagamento de ordenados, a má administração exercida, a galopante caminhada para a falência.

Van Zeller já tem a cabeça a prémio. Na AR os comunistas (Honório Novo chamou a si essa responsabilidade) solidarizaram-se com os trabalhadores. O réu está antecipadamente condenado.

Porque a culpa é sempre dos patrões, não obstante o patrão Estado ser um patrão especial, razão porque a culpa - a indeclinável culpa - é do patrão privado que ainda está para vir mas já é culpado. E daqui não sairemos nunca.

 

 

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