Memórias académicas (II)
Creio que a conheci num jantar de há milénios no velho "Fagundes", com as suas salas pequenas, cada grupo de comensais em cada uma delas, longas a inesquecíveis noites de Leça da Palmeira, até que o sinistro clarão de um incêndio sinalizou a morte desse nosso refúgio e dos seus bifes. Talvez já num tempo de despedida, os prados académicos haviam entrado em pousio, eram horas de partir para outros lugares da vida...
Como quer que seja, conheci-a então. Alguém festejava o aniversário. E, feitas as apresentações, calhou de nos sentarmos lado a lado. E, sem querer, dei comigo a esbugalhar o olhar contra as suas pernas, tal a escassez da saia. Uma saia de malha, recordo bem, por efeitos da cadeira quase se refugiando nas nádegas da proprietária - a quem houve de explicar que não, eu não era maluco nem perigoso, somente um provinciano pouco rodado.
Essa noite foi o início de uma grande amizade, ainda agora bem mantida. E, no remate dos estudos (a minha Amiga concluiu-os um ano antes e casou sem esperar pelo derradeiro exame), lá lhe deixei uma quadra no seu Livro de Curso:
«Já doutora, já casada,
ai que situação a minha!
Pra que chegue a mesada
uso a saia poupadinha».
Evidentemente, ela exerceu o seu direito de resposta, quando também lhe pedi uns versos para o meu:
«Generoso como ele é,
parece que lhe querem mal:
Pindela apenas, porquê?
Chamem-no; mas no plural».
Querida R.! Ainda ontem nos encontrámos, nós e a sua constante preocupação acerca da minha sanidade. Em momento, infelizmente, menos alegre e descontraído.