O Se'Macedo
O passeio repetia-se ao longo do ano. Finda a labuta agrícola - não que eu participasse nela muito activamente... - o ancião Massey Ferguson, vermelho amolgado, vinha solavanqueando desde o fundo do vale até ao cimo da freguesia. Comigo o filho mais velho (que Deus tem) de uma das caseiras e o gostinho de ambos em rematar a tarde no Se'Macedo. A casa no gaveto da Estrada Nacional e de um caminheco, tudo pedra, os portais do piso inferior abertos de par em par. Não havia letreiros, nem mesas, nem cadeiras. Talvez um banco corrido, apenas, e, a bem dizer, nada mais senão o balcão, o vinho, a cerveja e os cigarros. E alguns velhos encostados, bebendo e fumando.
- Boa tarde, Se'Macedo, era meio quartilho de branco.
E a conversa despontava entre aqueles cheiros do trabalho e do vício e da idade dos presentes. Viviamos os anos da Revolução, calhando marchava a outra metade do quartilho, mais uma paivada, o filho (que Deus tem) da caseira teimava em tratar o Gen. Spínola por "Pirocas", acendia-se a discussão política ante a prudente contemplação do Se'Macedo.
Até serem horas do regresso aos confins do vale. Vim de lá hoje, a pé, provar umas calças ao alfaiate. O Se'Macedo morreu já não sei quando. E a casa aguarda um comprador, descoberto que foi quem a vendesse: um filho do Se'Macedo esquecido algures na Venezuela.