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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O GOL de rabo ao léu

João-Afonso Machado, 31.08.12

A divulgação de uma lista extensa de filiados no Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga agremiação maçónica cá do burgo, revelou-se do maior incómodo para quem se sentiu, digamos assim, denunciado. De acordo com os jornais, António Reis, ex-Grão-Mestre, atribuiu  a façanha a hackers. À pirataria informática, em suma.

De resto, a identificação dos maçons não trouxe surpresas de maior. Grande parte deles encaixa-se no PS, afinal o "herdeiro moral" da malandragem primo-republicana. Já se sabia.

A questão de defendido (e ofendido) secretismo da organização é que levanta interrogações mais relevantes, designadamente no plano do Direito. Qual a natureza jurídica das estruturas maçónicas? Do que eu conheço do Código Civil, associações de direito privado não são concerteza. Impossivelmente passariam no crivo fiscalizador do Ministério Público. Do mesmo modo, não cabem na tipologia das entidades jus-publicistas. E ignoro legislação especial que as preveja e, consequentemente, lhes reconheça personalidade e capacidade jurídica.

Acresce a imensidade de preceitos constitucionais que o seu secretismo e desigualitarismo violam. O que repugna sobretudo porque, se há defensores estrénuos da Constitução da República, são eles os "senhores da Ética", os nossos maçons.

Por isso, o que é então a Maçonaria e o que significa em Portugal, além de uma rede vastíssima de conluios, conspirações e sindicatos de voto?

Talvez agora pudessemos ser todos esclarecidos. Sem filosofias baratas e com alguma sustentação de iure.

 

 

Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de V. N. de Famalicão

João-Afonso Machado, 30.08.12

A sua história ainda é um percurso por desbravar, sobretudo no que respeita aos mais recuados períodos. Mas têm-se por aceite a sua génese em 1890. Justamente quando um incêndio de enormes proporções ia levando nas chamas quase toda uma das principais artérias da vila.

Ainda não era o tempo dos automóveis. As primeiras "bombas" da corporação puxavam-as ou duas parelhas de cavalos ou, no outro caso, não havendo como atrelá-la à maior, a força braçal dos seus homens.

Os serviços prestados à urbe foram diversos e da maior valia. Daí o alvará d'El Rei D. Carlos, em 1903, agraciando-a com o título de "Real". E Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de V. N. de Famalicão passou a designar-se. 

O advento da República decepou-lhe o "Real" - agora reintegrado no seu nome completo, mais recentemente.

Como é frequente em terras de provincia, é grande a rivalidade entre as - no caso duas - agremiações de bombeiros locais. Com o respeito que me merecem todos quanto se dedicam às inerentes actividades de auxilio, é evidente que o meu favoritismo vai para a Real Associação Humanitária. Já era assim com os meus familiares de outras gerações.

 

 

Champalimaud

João-Afonso Machado, 29.08.12

A notícia da morte de uma senhora ligada à sua Família trouxe-me a sua memória. António Champalimaud, empresário, milionário, um alvo preferencial da nossa Esquerda ilustre. Em suma, um fascista, um capitalista odiento.

Nunca o conheci. Admito até, tenha sido uma pessoa de trato dificílimo. Exigindo dos seus subordinados talvez além do normalmente exigivel. Senhor de uma fortuna desfeita com a Revolução abrilina e refeita, lá fora, no novo curso da sua vida. Até regressar a Portugal.

O certo é que Champalimaud morreu há um punhado de anos. Deixando à sua Pátria qualquer coisa como 500 milhões de euros.

Provavelmente cometeu, nessa sua disposição testamentária, um erro mais. A sobredita importância havia de ser direccionada para a cobertura do deficit das contas públicas. Afinal elas são muito mais problemáticas do que os dramas dos doentes do foro oncológico...

 

 

Um casório comme il faut

João-Afonso Machado, 28.08.12

Foi um inesquecível casamento, o da Paula, a nossa secretária há vinte anos atrás. Todos os colegas receberam o seu convite, cabendo a mim a honra de apadrinhar o acto, juntamente com o meu primo Fernando T.

A Paula era orfã de pai e fez muita questão de ser levada ao altar pelo padrinho. Pelos padrinhos, os dois, porque, coitada, não se sentia capaz de preterir algum. E assim a conduzimos, eu e o Primo Fernando, um de cada lado da noiva, quais galhetas do galheteiro, até junto do seu Zé e do oficiante.

No fim, o arraial do costume. Os automóveis envoltos em gaze e tecido branco, as buzinas a apitar e o cortejo rumando Leça da Palmeira, onde foi servido o copo-de-água

Confesso, não ia preparado. Esquecera tais adornos. Mas foi o tempo de pedir umas fitas para os retrovisores e para a antena, uns trapitos entalados nos vidros das portas, e de me agarrar desenfreada e solidariamente ao claxon.

Era Agosto e dali seguiria para Vila do Conde, terminada a festa. E, correndo esta tão bem, achei devia prolongar a euforia matrimonial da nossa Paula. Assim entrei em terras vilacondenses com o meu carro (não, não era, nunca foi, uma limusine...) decoradissimo, a gaita a berrar ensurdecedoramente e eu de janela aberta, o cotovelo de fora e um charutaço entre os dentes.

Nunca percebi porque amuou depois comigo a minha família mais próxima...

 

 

F-D-P

João-Afonso Machado, 28.08.12

Sabemos todos que a blogosfera não é o lugar próprio de ensaios escritos. Estamos no domínio da rapidez de leitura, palavras breves. Do género F-D-P. Ou seja:

FUTEBOL - O meu Porto funciona. Ganha Ligas após Ligas. Ganha também no mercado das transações dos jogadores. Ganha tudo. Tem um líder, odiado ou venerado - Pinto da Costa.

DEMOCRACIA - Um conceito cada vez mais inexplicável. Quem manda em quem? E porquê? Os portugueses, incapazes de responderem a estas interrogações, optam pela praia ou pelo campo.

POLÍTICA - Teoricamente subjaz à dita democracia. Na prática, versa o futebol. Entre a praia e o campo, as transações de jogadores definem o gabarito dos líderes, indo às malvas os votos, com ressalva das diferentes bandeiras clubisticas. A conversa de férias é assim e politicar é ganhar a Liga. O mais é o aperto da vida. Tão só.

Logo (portanto) - venha lá a Troika para a gente descarregar a bílis...

 

 

 

Memórias de ...

João-Afonso Machado, 27.08.12

Esta curva... Vão lá os anos de uma vida cheia de atropelos e era Carnaval. Já não lembro destinos, apenas a hora tardia em que seguíamos não sei para onde. Mandava a escuridão e uma fila breve a obrigar-nos a parar. Acidente!!! Naquela curiosidade parôla da morbidez saímos do carro em galope, rumo a um espectáculo pouco limpo, confrangedor. Tinha sido um choque frontal, os condutores estavam cá fora, tentando não descer da verticalidade, uma mancha enorme de sangue por eles abaixo. E um meu amigo, a um deles, no maior despropósito:

- Oh chefe!, você ultrapassou-me ainda há pouco!

A resposta obvia foi o silêncio de alguém que juntava forças para não cair, encostado aos restos de um Citroen, fazendo contas para saber de que lado estava: se de o de cá, se o de lá. A ninguém sobravam forças para a costumeira discussão das culpas. Eram dois homens, dois vultos corridos de vermelho e roupa rasgada, somente pedindo o mais elementar pedido - socorro!

Há décadas! Tantas quantas o tempo da ambulância a chegar. Doeu-me a dor daqueles azarados. Longe vinha o tempo das protecções de agora, os sinistrados curvavam-se às punhaladas dos frisos cromáticos, o estarem de pé só se deveria ao treino de antigos combatentes em África.

Nada mais soube. O mundo faz-se de desejos do melhor. Assim os acidentados dessa hora vivam agora uma memória perdida. Felizes.

Para mim, o Carnaval acabara ali. Diria até -  os meus carnavais definitivamente volveram noutra onda.

 

 

"Doze badaladas"

João-Afonso Machado, 26.08.12

Meias-noites de dias inteiros

e ainda o silêncio dos gestos,

quedos açoites, vagares manifestos

de nada além do imaginário.

 

A presença de ninguém

como se alguém com horário…

 

Sonos de solidão,

amanhãs sem roteiros,

escuridão em ideias vãs.

 

Mas alvorecem certeiros sinais

de vida e alma,

afãs de palavras e olhares

muitos, sempre mais

em gozosos vagares,

 

ritual que se repete,

sonho que se intromete,

 

expressão que se mente

morde, rasga

e nada sente.

 

 

Ceuta

João-Afonso Machado, 26.08.12

Foi a nossa primeira conquista militar em África: Ceuta, a 21 de Agosto de 1415, no reinado de D. João I.

E portuguesa se manteria, esta então denominada "praça forte", até à Restauração em 1640. No processo diplomático conducente ao tratado de paz depois celebrado com os espanhois, por um lado; ouvida, por outro, a população local (ao que parece em referendo), a actual "Cidade Autónoma de Ceuta" passou defenitivamente para o domínio dos nossos vizinhos. Conforme hoje se mantêm.

No entanto, foi vontade de todos, e por todos sempre respeitada, as armas desta lança europeia em África se mantivessem - sobre a bandeira de Lisboa como fundo, o escudo real português, necessáriamente com os castelos, as quinas... e a coroa.

Tanto quanto me é dado saber a ninguém ocorreu ainda alterar este histórico sinal da nossa presença e influência do lado de lá do estreito de Gibraltar.

 

 

Paradoxos de Agosto

João-Afonso Machado, 25.08.12

Em outras eras, já recuadas, era a sensação do fim. Obviamente, do fim do mundo, porque ninguém acreditava sobreviver à dor de onze meses de distância e coração escravizado.

Agosto era sempre perigosamente delicioso. Os últimos beijos, as derradeiras promessas de amor eterno, e o disco, já muito arranhado, a tocar a milionésima vez o hino dessa estival epopeia. Que logo caía de bruços, liricamente, parzinho entrelaçado, no sofá mais perto de si.

(De onde só se levantaria empurrando-o Agosto porta fora. Num compungente vale de lágrimas).

Hoje não. Nem se escrevem cartas. As auto-estradas, se não entupirem, em instantes nos levam lá. E os telemóveis são como pistolas no bolso, de rápido manejo em qualquer assalto de Cupido.

Mas Setembro continua doloroso, triste, quase mudo.

Digo eu, por excesso de palavreado. Ou de maldade e cegueira. Da loucura do abismo, tão à tona quando as embarcações tomam rumos diferentes. Não sei que artes se apossam das linguas, nestas marés de comunicação fácil, mas os resultados são tudo menos brilhantes, com o Verão a findar usualmente em pé de guerra.

Saudosos Agostos de outrora, em que os tais rumos diferentes não se transfiguravam em rotas divergentes...

 

 

O Desejado

João-Afonso Machado, 24.08.12

Não se sente a proximidade do deserto. Tão pouco o plangente instrumental do mundo muçulmano, e a dança do ventre foi apenas uma ideia saborosa e passageira. A cidade desconhece o pó e as algazarras. E adagas, cimitarras, fuzilaria, se as tem, esconde-as bem.

Somente o nevoeiro envolve Ceuta e se apodera dela, parecendo que nem tudo pode ser visto: o Rife, Gibraltar, o estreito...

Esforçam-se os olhos no desvendar dos segredos. Do porto às muralhas, abrindo caminhos entre a neblina, enquanto a História desperta das brumas e recorda e fala. Um vulto, as cores claras do seu albornoz, surge das escadarias e estaca junto das ameias, como se o tempo acabasse ali. Ou ali recomeçasse, depois do nevoeiro, em Ceuta, no mais provável percurso do regresso de D. Sebastião.

O ambiente está criado, os espíritos absolutamente receptivos.

Oxalá Ele não demore...

 

 

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