Ficou para trás, a primeira metade do ano. Os dias vão decrescendo, entrámos no Verão e no possivel frenesim balnear... É a circularidade com que o Tempo nos ilude, como se esta nossa caminhada no planeta não tivesse um início e um fim, ao longo de um segmento de recta implacavelmente hirto, segundo a segundo, minuto a minuto.

Fica-nos, no entanto, a falsa ideia dos ciclos, os invernos sucedendo aos outonos, os verões às primaveras..., como se não largassemos esse sempre repetido carrocel.

Ou talvez não. Talvez, pela primeira vez, nos sintamos caminhar às escuras. Segundo uma trajectória imprevisivelmente curvilínea ou descendente ou em espaço aberto ou armadilhado.

Já não sabemos para onde vamos e se conseguiremos lá chegar. Férias? Para muitos, muitíssimos, só se a jogar à cabra-cega, precisamente.

Aprendi palavras faladas,

fi-las o som do meu coração

pintado no tom de um sorriso,

longo traço preciso

azul carregado de emoção.

Esgrimi palavras faladas

à alma nua apontadas.

E enfrentei o escuro e bati os escudos,

em frases perdidas, espadas partidas,

jamais desisti.

Só os olhos não cantaram.

Opacos e mudos, tudo calaram

esvaindo o tom e o som

das palavras faladas

em azul esgrimidas,

opacos e mudos,

asas de amor partidas.