Memória da chinelinha
Lembro vagamente a intranquilidade há um ano atrás. Recordo, sobretudo, a estranheza de um mundo que jamais poderia ser o meu. Mas falador, ameaçador, erguendo-se muito no plural, muito em biquinhos dos pés, a anatematizar, a ostracizar...
Um mundo, afinal, pouco mais viajando do que à roda do seu próprio quarto. Sem embargo do seu mundanismo.
Estranha, incompreensivel, atracção pelo abismo, a minha! Quanto custou sacudir então a cabeça, esfregar a alma e voltar para casa! E aturar até à exaustão o papel impingido de fora-da-lei, assim universalmente considerado, - asseverava esse mundo, muito em biquinhos de pés, ostracizando, sempre mundano.
E hoje, visto à distância, quão previsivel e desinteressante, quão sintético e vulgar... Quão alcatifa!
Onde deslizavam passinhos no mutismo da chinela...
(Escrito em cima do joelho, à sombra de uma árvore inquestionavelmente pertença do mundo vegetal.)