Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Vallis Longo

João-Afonso Machado, 27.06.12

Se não me trai a memória, saía-se do Porto pela velha estrada para Santo Tirso e Guimarães. Passava-se a infernal Areosa e ali, no Alto da Formiga, cortava-se à direita para Paredes, Penafiel, Amarante... Para um Minho ligeiramente menos minhoto ou, querendo, para a infinitude duriense.

Mas uns vinte minutos depois de terras de ninguém - paraíso de casas de alterne - surgia na curva a identidade própria de Valongo, uma pacata vilória, sede de concelho, creio que ainda não cabeça de comarca.

O primeiro momento de uma viagem demorada mas agradável. Valongo não descobrira então o fascínio da construção em altura, ia apenas numa história orgulhosamente tentada restaurar desde os romanos, desde Vallis Longo, através da Idade Média... de que, fatalmente, resquícios quaisquer haviam sobrado. Mas a gente acreditava e, olhando em redor, via alguns edifícios com o seu quê de apalaçados (nestas terrinhas morou sempre um "capitão" setecentista a fazer a ponte entre os lavradores ricos e os fidalgotes mais arremendados), umas capelinhas onde se adivinhava imensa devoção e culto, o café, palco dos mais empolgantes feitos - leia-se: discussões, discursatas - políticos da região, o restaurante famoso pelo seu bacalhau, pelo seu cabrito, os biscoitos tradicionalíssimos...

E a gente ficava contente e saciada com tanta simplicidade. Valongo fazia parte de nós, era o lado menos monumental do Noroeste, um quase esvair na fronteira marcada pelo rio. De bom grado se parava lá e bebia uma cervejinha, antes de retomar a direcção dos grandes e muitos amigos de Paredes e mesmo de Amarante.

Há quantos anos plantaram a A4 sobre os dedos dos pés de Valongo? Já não recordo. Foi o tempo de uma mata de cogumelos crescer serra acima e serra abaixo, sem nexo nem respeito, num atropelo ganancioso e desvastador. Restou quase nada depois das rotundas, dos prédios modernissimos mas já podres na dentição, e daquela desmedida galeria comercial, no centro, cínicamente chamada "Vallis Longo"...