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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Ecos dos mareantes

João-Afonso Machado, 15.05.12

Tudo se transfigurou. Um mundo inteiro vindo no correr das décadas para junto do mar, deixando para trás a humildade de Nossa Senhora das Areias, a vetusta quietude da Pederneira. E o silêncio fez-se completamente ouvir onde já fora a sede desse antigo concelho dos coutos de Alcobaça.

Aí decifrei o mistério do Tempo. E dominei a arte de o dominar, com uma vara aguçada ao seu peito apontada. Na Pederneira, onde lhe impus um retrocesso sobre si mesmo. Até ao tempo dos meus antepassados mareantes, homens das embarcações e do vaivém ao longo da nossa costa, de quando os piratas eram iguais aos das histórias e lhes roubavam as cargas e as vidas.

Quantos baptismos, quantos casamentos, quantos óbitos, quanto riso, quanto choro, quanto gozo, quanto sofrimento, de que a igreja paroquial de Nossa Senhora das Areias foi testemunha, não circulam hoje ainda no meu sangue?

Viajando através das gerações até encontrar o Minho, o extremo desse percurso que aprendi a fazer em sentido oposto. Contra o vento, contra o Tempo. Alcançando a Pederneira, a sua imobilidade, a imobilidade do sol e das sombras.

Insondáveis segredos do acaso ou do Destino! Porque Deus quis.