Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Memórias vilacondenses (XIV)

João-Afonso Machado, 03.05.12

«(...) do chalet onde, entre 1899 e 1905, viveu Guerra Junqueiro.

O estado de conservação é irrepreensível, com um jardim de hidrângeas, palmeiras e cedros a resguardarem aquele poiso de inspiração do Poeta. Lê-se numa lápide, à entrada: "HOMEM! / Quando a alvorada alumia o horizonte / Ergue-te em pé, ergue essa fronte, / Ergue-te livre, em pé, na terra escrava / Em que hás sido mudez caliginosa / E onda e rocha e verme e fera brava". São estrofes da "Oração à Luz" (1903), tal como a "Oração à Paz" (1902) decerto rezadas naquele seu refúgio. A maresia, o eco das ondas lá longe despedaçando-se nos rochedos, as manhãs de bonança nas areias douradas, ditaram o fim do panfletário e foram o berço do trovador das belezas naturais. Guerra Junqueiro vai-se reconciliando com a Religião e a Igreja - "Homem, levanta a Deus o Coração ao ver o pão / (...) / Vive por Deus! / Sofre por Deus! / Morre por Deus! / E bendito serás na eterna paz, / Porque ao fechar os olhos teus, / Trigo de Deus, absorto em Deus descansarás!...". Por maldade não sei de quem, instalaram agora, confinando com o seu chalet, a Repartição de Finanças de Vila do Conde...»

 

(Vd. Em Vila do Conde, descendo a Av. de Bento de Freitas ao longo de algumas gerações, in O Tripeiro, Agosto de 1993, pág. 240.)

 

Dumping

João-Afonso Machado, 03.05.12

«Unidade, unidade, unidade / Do trabalho contra o capital / Camaradas lutemos unidos / Porque é nossa a vitória final».

É folclore, já só quase. Pelo menos não é entoado em coro cerrado, como nos idos do PREC. Ainda assim, dá que pensar.

Porque enquanto a lengalenga sair da boca dos altifalantes está ali, ténue que (quantitativamente) seja, uma vontade, um estimulo à fractura social. O propósito maniqueísta de dividir o mundo entre bons e maus, explorados e exploradores, um sopro na brasa de quem pretende não esmoreça a luta de classes.

A demonstração evidente de que o marxismo-leninismo sequer o discurso modificou totalmente. Quanto mais o ideário.

Talvez a maior parte dos que contemporizam com estes apelos à união na luta não se consciencializem do significado da vitória final. Mas nem por isso se esvai a desconfiança ingénita, o rancor alimentado, do pobre face ao rico. Ao ponto de se confundir qualquer governo de Direita com o império da classe empresarial. Do capital, em suma.

Ao ponto, até, de se vislumbrar nesta tão criticada iniciativa do Pingo Doce uma manobra - uma conspiração - contra os trabalhadores, justamente no feriado que lhes é dedicado! E fanatismo em tão farta dose só pode ser considerado dumping: a CGTP vende política a preços infra-custos, com a intenção de prejudicar Portugal.