Memórias vilacondenses (XIV)
«(...) do chalet onde, entre 1899 e 1905, viveu Guerra Junqueiro.
O estado de conservação é irrepreensível, com um jardim de hidrângeas, palmeiras e cedros a resguardarem aquele poiso de inspiração do Poeta. Lê-se numa lápide, à entrada: "HOMEM! / Quando a alvorada alumia o horizonte / Ergue-te em pé, ergue essa fronte, / Ergue-te livre, em pé, na terra escrava / Em que hás sido mudez caliginosa / E onda e rocha e verme e fera brava". São estrofes da "Oração à Luz" (1903), tal como a "Oração à Paz" (1902) decerto rezadas naquele seu refúgio. A maresia, o eco das ondas lá longe despedaçando-se nos rochedos, as manhãs de bonança nas areias douradas, ditaram o fim do panfletário e foram o berço do trovador das belezas naturais. Guerra Junqueiro vai-se reconciliando com a Religião e a Igreja - "Homem, levanta a Deus o Coração ao ver o pão / (...) / Vive por Deus! / Sofre por Deus! / Morre por Deus! / E bendito serás na eterna paz, / Porque ao fechar os olhos teus, / Trigo de Deus, absorto em Deus descansarás!...". Por maldade não sei de quem, instalaram agora, confinando com o seu chalet, a Repartição de Finanças de Vila do Conde...»
(Vd. Em Vila do Conde, descendo a Av. de Bento de Freitas ao longo de algumas gerações, in O Tripeiro, Agosto de 1993, pág. 240.)