Perspectivas de vida
Engenheiro civil, 56 anos de idade completados. Casado, com os filhos (felizmente) já encaminhados. E uma vida de trabalho numa dessas gigantescas e conhecidas empresas de construções e obras públicas subitamente em colapso, a despedir gente por não ter que lhes dar a fazer nem com que lhes pagar.
Enfim, mais um desempregado.
A pequena propriedade da Família, meia-dúzia de hectares de vinhas, surgiu-lhe como a hipótese alternativa imediata. Todavia, desprovido de meios financeiros para investir e rentabilizar a produção, tudo ficou em tratar e colher as uvas para as vender por um preço exíguo - ao menos pago... - a uma qualquer grande empresa do ramo. O pouco que angariava continuava a não chegar para viver.
Assim vai ponderando, cada vez mais seriamente, a possibilidade de emigrar
(- O meu cunhado já lá está, no Brasil...)
porque aqui, cá, entre os seus,
- Quem me vai dar emprego, com a minha idade?
interroga-se muito consciente da situação e vislumbrando a medo a longínqua Angola, um mundo de incertezas e perigos, uma vida que seria talvez um aliciante desafio - há vinte anos atrás.
Sem dúvida, de bom grado dispensaria os subsídios de férias e de Natal. Importante, importante, era o que poderia trazer para casa, todos os meses, certinho. Se mantivesse o seu emprego.