A Morte
A Morte, se não for zarolha, é miope. De óculos na ponta da sua magreza mortal. Longe dos raciocínios, alimentada no deleite dos rancores, magra, escanzelada, sem leite na teta. Não se sabe se é sangue, se é avidez de sangue, se tem veias e algo corre nelas. Por Satanás e os mais mafarricos que povoam a existência (afinal não descontraída) dos mortais.
Mas, sobretudo, a Morte tem muitas caras. De Woody Woodpecker, tagarela, de Noite das Bruxas, mão estendida e ameaçadora. Com dentes adiantados, caninos ferozes de Drácula ou de lobisomem... No som cavo de uma peça sinfónica, na alegria da cantarolice. É isso a Morte: o imprevisivel. Uma cadência diária em que o mundo virtual não escapa. É o Mal com poder e vontade. Uma mulher em que ninguém pega e de quem todos se afastam. Com mau fígado e fétidas entranhas.
Não é o fim do Carnaval nem o início da Quaresma. É, simplesmente, a Morte. Sempre sozinha, noites fora. A fatalidade - ou o rafeiro que, de nariz no chão, persegue a maldade. Um zombie, se recordarmos o videoclip de Michael Jackson. Ele próprio uma vitíma sua. Há quem diga, quando sonhava com biquinis brasileiros. Disso não tenho a certeza. Sei somente que a Morte ecoa todos os dias.
Magra, escanzelada e de luneta. E de linguagem muito abaixo de qualquer carroceiro.