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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Memórias vilacondenses (III)

João-Afonso Machado, 12.02.12

Seria o mais recatado poiso da Vila do Conde veraneante de então. O posto da GNR. Talvez não habitado por mais do que três ou quatro soldados (!!!), incluindo o Sargento, sempre nas suas cativantes funções, à porta de armas ou à janela.

Confraternizando, em suma. Entre eles e com quem passava. Salvo nas ocasiões em que partiam em missão, com ar de quem ia à Vila comprar um sêlo dos correios.

E assim decorriam as férias. Sem multas (os guardas seriam lá capazes de multar os nossos pais!) e sem alguém, além de nós, em caso de sarrafusca com os caxineiros. Cuja corrida a pé  descalço não dava qualquer hipótese às botas de montar da GNR e a todo o correame que condecorava as suas amplas superfícies.

Porque não os havia magros, atléticos. A Guarda era, por defenição, gorda. Barriguda e papuda. Um suadouro, debaixo daquelas fardas cinzentas, fosse Agosto ou fosse Janeiro - quando (neste último mês) não tinham por incumbência postarem-se nos passeios da Bento de Freitas - nas imediações do posto, portanto - intimando-nos...

- Os meninos não podem andar aí de bicicleta. Essa é a via dos peões...

assim cumprindo o seu indeclinável destino cívico.

Nós, esmeradamente educados, logo descíamos, sem suspensão nas bicicletas, mas sempre obedientes, ao paralelo da rua, Para retomar o cimento dos passeios (onde as ultrapassagens tinham outra emoção) no dobrar da primeira esquina. E, deste modo, décadas e décadas, durante gerações.

Antes muito de José Sócrates, o Posto encerrou. Mexeram nele e percebe-se que é agora habitáculo de basta gente.

Seguramente, não já do velho Sargento, dos seus subordinados, gente que a nortada do Tempo levou e, decerto, não tinha feitio para condóminos...