Memórias vilacondenses (III)
Seria o mais recatado poiso da Vila do Conde veraneante de então. O posto da GNR. Talvez não habitado por mais do que três ou quatro soldados (!!!), incluindo o Sargento, sempre nas suas cativantes funções, à porta de armas ou à janela.
Confraternizando, em suma. Entre eles e com quem passava. Salvo nas ocasiões em que partiam em missão, com ar de quem ia à Vila comprar um sêlo dos correios.
E assim decorriam as férias. Sem multas (os guardas seriam lá capazes de multar os nossos pais!) e sem alguém, além de nós, em caso de sarrafusca com os caxineiros. Cuja corrida a pé descalço não dava qualquer hipótese às botas de montar da GNR e a todo o correame que condecorava as suas amplas superfícies.
Porque não os havia magros, atléticos. A Guarda era, por defenição, gorda. Barriguda e papuda. Um suadouro, debaixo daquelas fardas cinzentas, fosse Agosto ou fosse Janeiro - quando (neste último mês) não tinham por incumbência postarem-se nos passeios da Bento de Freitas - nas imediações do posto, portanto - intimando-nos...
- Os meninos não podem andar aí de bicicleta. Essa é a via dos peões...
assim cumprindo o seu indeclinável destino cívico.
Nós, esmeradamente educados, logo descíamos, sem suspensão nas bicicletas, mas sempre obedientes, ao paralelo da rua, Para retomar o cimento dos passeios (onde as ultrapassagens tinham outra emoção) no dobrar da primeira esquina. E, deste modo, décadas e décadas, durante gerações.
Antes muito de José Sócrates, o Posto encerrou. Mexeram nele e percebe-se que é agora habitáculo de basta gente.
Seguramente, não já do velho Sargento, dos seus subordinados, gente que a nortada do Tempo levou e, decerto, não tinha feitio para condóminos...