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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O Zé da Esquerda

João-Afonso Machado, 10.02.12

Crê-se vagamente ser um noctívago. Uma variedade politizada do Homo Tecnologicus. Feições urbanas, crâneo escassamente pelado, a barba por norma descuidada. Assim hitleraniamente desenhado, dirá ele.

O Zé da Esquerda vê o mundo pelo ângulo mais esconso da sua janela ou pela informação que recolheu na Internet. Esse "diabólico instrumento", alvitrará, muito cínico. Mesmo que tenha feito o inter-rail, que os familiares meios financeiros normalmente lhe proporcionam. Mas não, seguramente não foi em tais lances de aventura se afeiçoou às suas nobres causas e adquiriu esse acrisolado amor pelos desafortunados, e o seu ódio de estimação ao milho transgénico que destroi.

É na rua - na capital do Reino - que o Zé da Esquerda, face a face com o o Corpo de Intervenção da PSP, conquistará o seu estatuto de revolucionário. À boleia do sindicalismo, obsoleto, sem dúvida, mas consonante com o seu slogan contra os "trabalhadores precários".

(Que grande confusão!!!).

O facto é que o operariado metalúrgico e os trabalhadores de enxada na mão não o interessam. O Zé da Esquerda abomina esses instrumentos calejadores, tanto quanto acaricia o teclado do computador. Nada abaixo da categoria de investigador, professor universitário. Por isso andou estudando, mesmo eventualmente com consciência da nenhuma saída do seu curso de eleição.

Assim enjeitando o mundo rural e outras subalternidades (onde os seus congéneres se cosmopolitizam de rabo-de-cavalo, até para pirracear o Senhor Abade, desditoso clérigo), o Zé da Esquerda rimbomba sobre a Direita betinha e ergue aras à causa da Modernidade. Vêmo-lo nas manifestações de rua a favor da interrupção voluntária da gravidez (vulgo aborto) e do casamento entre pessoas do mesmo género (o tal casamento gay) e contra as touradas, essa barbárie.

Sempre com aquele seu eterno sorriso de superioridade e de (é justo reconhecê-lo) complacência para com os ditos betos da Direita. Conquanto não calhem mais para o que eles apelidam de marialvismo. Aí o caldo transgénicamente entorna e o Zé da Esquerda é mesmo capaz de intervalar na sua fé democrática. Para, uma vez bem enxovalhado o - beto? marialva? - logo voltar à sua pacifista condição de modernista e defensor das minorias.

Em longas tardes de computador e Bob Marley. It´s de revolution, man.