Manhã portuense
Estranha cidade nesta manhã de sol e frio a levantar as golas dos casacos até aos narizes. Estranha cidade de silêncios e espaços vazios!
O que é feito da Baixa tripeira? Das vozes e do sotaque das vendedeiras, dos seus gigos à cabeça? Do trânsito tremendo de autocarros e automóveis?
(Afora os eléctricos, o 1 e o 22, atravessando a Cordoaria, como há décadas, mas agora vazios, enregelados...).
E Cedofeita, quase um ermo, letreiros por quantas janelas e portas ("Passa-se", "Arrenda"...), eram mais as gaivotas e as pombas, qualquer cachorro vadio, sequer uma nota musical à cata de umas moeditas, um pedinte.
Os Leões despidos de população estudantil, José Falcão uma madrugada avançadissima e escura. Nem um brado, oriundo de algum dos tantos cafés de antigamente, os restaurantes de trancas às portas.
Ramalho Ortigão ensaiava um discurso de mármore, genuninamente o seu sermão aos peixinhos do lago no jardim. E logo após, no Palácio da Justiça, - aí sim, regorgitavam de gente os corredores. Parece ser nos tribunais que o movimento citadino se concentra. Em busca de quê?