A hora da galinhola
Há-de ser uma hora de muito frio e restos de azul celestial. Com a luz a fugir, palpavelmente a fugir, com os melros estridentes, esvoaçando entre as moitas. Os guarda-rios sobrevoam as águas - ainda conseguimos topá-los, muito rentes - e os morcegos desprenderam-se das torres e são agora como borboletas no ar. A capoeira já quase serenou.
Até que o silêncio e a escuridão se lançam como uma capa aberta abafando o local de espera. A galinhola virá do vale, fantasmagóricamente, num voo curvilíneo rumo aos bosques onde pernoitará. Toda a atenção é pouca. Só os derradeiros lampejos crepusculares consentirão vê-la, chegada do nada, antes de se embrenhar na impenetrabilidade do arvoredo.
Impacientíssimas, Minês e Tareja aguardam um possivel tiro, uma queda, para que os seus narizes a retirem das brumas.
Mas hoje não foi dia. A galinhola deve ter escolhido um roteiro diferente...