Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A hora da galinhola

João-Afonso Machado, 06.01.12

Há-de ser uma hora de muito frio e restos de azul celestial. Com a luz a fugir, palpavelmente a fugir, com os melros estridentes, esvoaçando entre as moitas. Os guarda-rios sobrevoam as águas - ainda conseguimos topá-los, muito rentes - e os morcegos desprenderam-se das torres e são agora como borboletas no ar. A capoeira já quase serenou.

Até que o silêncio e a escuridão se lançam como uma capa aberta abafando o local de espera. A galinhola virá do vale, fantasmagóricamente, num voo curvilíneo rumo aos bosques onde pernoitará. Toda a atenção é pouca. Só os derradeiros lampejos crepusculares consentirão vê-la, chegada do nada, antes de se embrenhar na impenetrabilidade do arvoredo.

Impacientíssimas, Minês e Tareja aguardam um possivel tiro, uma queda, para que os seus narizes a retirem das brumas.

Mas hoje não foi dia. A galinhola deve ter escolhido um roteiro diferente...

 

Restaurante Casa do Outeirinho

João-Afonso Machado, 06.01.12

Alguns anos foram passando mas os bons caminhos minhotos não saiem do sítio. Nessa altura praticava-se equitação e os automóveis antigos ali sediados enchiam-nos as medidas. Havia movimento e alegria na Casa do Outeirinho (no Louro, V. N. de Famalicão); e havia o excelente, sempre acolhedor, restaurante.

Hoje foi dia de visita. E de almoço. Os cavalos estão entregues ao futuro de jovens campeões nacionais, para que o sejam cada vez mais, e as velhas relíquias agasalhadas, não vá o frio engasgá-las. Restava o calor da conversa, a saga dos tempos vividos entretanto, empolgados ou desiludidos. Com espaço para a gargalhada, o sorriso consternado, a boca aberta de espanto, o incrédulo menear, enfim, da cabeça. A existência tem pano para essas mangas todas.

E as histórias sucediam-se, nos limites do inacreditável. Cá fora, os jardineiros amaneiravam os relvados do Outeirinho. A Silvia, indiferente a Cronos, mantem, capitaliza, simpatia, muito airosa, anfitreã como outra não há. Pareceu, subitamente, nada ter acontecido. Talvez por seu possivel reduzir um percalço à dimensão de um sonho mau.