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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Vem aí o frio

João-Afonso Machado, 31.01.12

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Está por horas a vaga de frio. Já não era sem tempo! Ainda hoje telefonei para Chaves, impacientíssimo:

- Então, neva? Ouvem-se os lobos no monte? Alcateias deles?

Que não, por ora somente o céu pardacento, um vento capaz de furar orelhas, garruços pelas cabeças abaixo...

Convenhamos que é pouco. Nada como a tempestade para albergar os cães dentro de casa sem excesso de reclamações. Ou para dar corda à máquina dos retratos, a braços com esses grandes vestidos de noiva a cobrirem bosques e veigas.

Oxalá não demore. Algo me diz que, na onda, embrulhar-se-ão também bandos de aves de arribação e mesmo um ou outro iceberg nas nossas ribeiras.

Tudo a postos, pois. Alerta vermelho. Faça o Governo o favor de distribuir meios para que a Protecção Civil possa ajudar quem, infelizmente, não encara a vaga de frio com este optimismo. Por carências e fragilidades suas, merecedoras de toda a atenção e respeito.

 

Cabras.... do rebanho

João-Afonso Machado, 30.01.12

Lembro a morte do tio João e o seu testamento: as cabras iam lá para casa. Foi bicho de que sempre gostei. Aquelas pupilas rectangulares, sem um bocadinho de vivacidade, as "pistolas" que mugiamos antes de aprender a evitar os coices das vacas mais manhosas. E as cabras vinham-nos à mão, se para comer fosse. E, enquanto comiam, até deixavam a gente fazer-lhes umas festas. Na sua voracidade tornavam-se domésticas, como gatos ou cães. Eu gostava de cabras e das suas cores, sobretudo das acastanhadas, pintadas de preto no dorso.

Lembro a poda que as roseiras levaram no jardim, um dia em que elas fugiram, e a imposição indeclinável da Avó: as cabras para a feira! Já!

Ainda assim, continuo a gostar de cabras. Das suas pupilas rectangulares onde não paira um laivo de inteligência; e dos cabritinhos recém-nascidos, autênticos brinquedos.

Ainda assim, branquiças, não lhes quero mal. Somente, é como tudo: os anos pesam e as vedações de arame são um tormento. As minhas cadelas dizem o mesmo quando as perdizes já vão em aterragem forçada. Raios partam as cabras!!! Porque não se quedam como as vacas?

É isto, a bem dizer, diariamente. Agravadamente quando o rebanho decide seguir-me em fila quase indiana lá para os meus confins. Diabo de animais! Portem-se como os cavalos, os burros, os bovinos, o gado de bem. Mas não - aí vêm elas - mé-mé-mé - atrás da gente que vai, de arma em punho, tratar de coisas sérias.

A confusão torna-se, então, total. Raios as partam -  e delas emane o excelente queijo que, às vezes, nos aparece ao almoço. 

Viver com cabras, se não for uma tragédia, é uma lição de optimismo.

 

 

 

Assalariados não produtivos

João-Afonso Machado, 30.01.12

Subitamente, em Portugal, regredimos a uma discussão politico-filosófica marx-engeliana. Afinal, havia (e há) uma classe dependente profissionalmente que não participava no processo produtivo. Não eram (são) proletários, sequer são também patrões de si próprios. Onde colocá-los na dicotomia explorados- exploradores?

Marx e Engels deram voltas aos textos. Creio que acabaram posicionando-os do lado dos bons. Contra os cow-boys. E o mundo foi avançando até, aparentemente, o terminus da luta de classes. Há muitos anos que - falo de Portugal - os comunistas, à falta de tema, se dedicam aos direitos das minorias. Com proveitos, por exemplo, para a tropa gay.

Os ventos económico-financeiros mudaram, como é do conhecimento de todos. Ante o gozo da CGTP, entretanto quase esquecida.

Agora temos a Troika, a austeridade e alguns complicadíssimos problemas pela frente. O do desemprego à cabeça.

O discurso da Central Sindical rejubilou. Finalmente!

Arménio Carlos (membro do Comité Central do PCP) apressou-se a trazer à colacção a luta de classes, aquando da sua eleição para a cabeça da CGTP. Eles estão na rua, novamente! Conforme a sua vocação de origem. Não será dificil adivinhar o programa que se segue.

Somente, tenhamos bem presente - na frente da contestação não estarão os (soi disant) proletários. Como sempre - e exclusivamente - os assalariados não produtivos (prestadores de serviços?),  funcionários dos sindicatos. Falemos claro: os agitadores de profissão.

 

 

 

 

A noite na Baixa portuense

João-Afonso Machado, 28.01.12

Partirmos, depois do jantar no restaurante, para a Baixa portuense não foi só uma proposta. Seria o cúmulo da deselegância dizer não, o tom de voz tinha o seu quê de decisão já tomada e daí a inutilidade dos argumentos. Mas - qual o problema, afinal? Nestes apertos nada como confessar logo o total desconhecimento da matéria. Era a primeira vez, nunca fora à Baixa nocturna, salvo em tempos imemoriais e ambientes que não vêm ao caso. Então foi como se me desse a mão e me conduzisse, a mim, menino obediente.

O bar não estava a abarrotar, o acesso ao balcão era simples, o pessoal civilizado. A música nada de desesperante. E. manifestamente, o ancião-mor não era eu. O que muito me admirou e confortou, confesso.

De modo que estava entre cotas, com conhecidos e conhecidas a chegarem permanentemente. Simpático!

Dando para pensar num retorno. Vamos lá ver. Também é preciso arejar entre nuvens de fumo de tabaco, de vez em quando.

 

Duelo em Forte Apache

João-Afonso Machado, 28.01.12

De passagem por Forte Apache apercebi-me de algum burburinho entre-muros. De olho numa frincha, logo topei mais um pronunciamento republicano.  Ricardo Vicente acusava os monárquicos da falta de racionalidade dos seus argumentos, do rídiculo do seu ideário assente numa pretensa superioridade imposta pelo nascimento, da sua propensão para a desigualdade de tratamento... E proclamava às tropas gaffes protocolares tremendas, em que abundavam Senhoras Donas Marquesas e Meninas Viscondessas. A fazer lembrar as anedotas (que Ricardo Vicente decerto desconhece) sobre as fífias do mesmo calibre de Madame Fragoso Carmona, ou mesmo a bucólica Morgadinha de Júlio Diniz.

Do lado monárquico, João Gomes de Almeida segurou muito bem os seus pontos de vista e com duas descargas - uma visando o crime de que nasceu esta República, outra a lista dos mais ricos países, esmagadoramente de chefias de Estado dinástica - rapidamente pôs cobro a estoutra manobra de caserna.

Pelo que, a bem dizer, não houve novidade. Já nos vamos habituando. E, sempre fieis ao princípio da soberania popular, resta-nos esperar que a Povo - a esmagadora maioria do Povo, não a aritmética do 50%+1 - opte pelo Trono como símbolo e representação da Nação, em vez de um Presidente reeleito sistemáticamente - ou vitalíciamente, se a Constituição o permitisse.

João Gomes de Almeida - pela minha parte, além de felicitar a sua intervenção, venho daqui lembrar-lhe onde estão os que se batem também por convicções como as suas.

 

Onde está Canas de Senhorim?

João-Afonso Machado, 27.01.12

Não vai muito tempo. O das camionetas rumo à Assembleia da República, partidas de madrugada para um dia inteiro, Canas de Senhorim queria a sua independência administrativa de Nelas, queria ser concelho, levava na jornada garrafões e chouriço, berrava que se fartava...

E de repente o silêncio... Mais ou menos quando o Poder Central, irremediavelmente falido, começou a pregar o contrário, a concentração das autarquias.

De asneira em asneira, lá fomos prosseguindo esta vida ligeira...

Ontem, por acaso, Rui Rio, Presidente da C. M. do Porto, focou o assunto. Conhecedoramente. Quanto à fusão de freguesias urbanas (nos grandes centros metropolitanos, creio), nada a opor. Agora nos meios rurais...

Pois é. Ainda há pouco debati o tema com gente da minha terra. Congregação de freguesias? Nem pensar! Nós temos o nosso orago, o nosso nome e a nossa história, a nossa identidade. Possivelmente, as nossas rivalidades. E a agremiação desportiva de cada um, uma peleja prometida semana a semana... Junção autárquica? Jamé!

A realidade é mais ou menos esta. Pessoalmente, não acredito sejam dados passos significativos nesse propósito abstraído das gentes. E que nada resolve, aliás. O Poder executivo mais não fará senão abordar esse assunto enquanto o empurra para a frente com a barriga.

De outro modo o Noroeste (pelo menos) entraria em convulsão. Até porque o que está em causa é, somente, a simplificação administrativa tout court. E os computadores estão lá para isso...

 

 

Depois do trabalho

João-Afonso Machado, 26.01.12

Apeteceu-me. Um passeio de fim-de-tarde, um retrato, uma experiência. Apeteceu-me algo de meu para mim. Embrulhado em luzes, como ainda não tinha na colecção. Felizmente havia cá em baixo, ao sair da porta. Como um facho decorado a histórias e glórias do Passado.

Mas hoje não é o momento de recordar feitos. Apenas de saborear efeitos.

 

É assim...

João-Afonso Machado, 25.01.12

De antologia, a entrevista televisiva ontem, de Zita Seabra. O tema envolvia a conduta da CGTP nas recentes negociações da chamada "Concertação Social". No fundo, ficámos a saber o que já todos sabiamos. Desta feita, confirmado por voz autorizada e insuspeita.

A abrir, a constatação de que dirigentes da central sindical afecta ao PCP teria aconselhado os seus homólogos da UGT a votarem favoravelmente o dito acordo. Estranho? Traição aos interesses do proletariado?

Simples manobra de bastidores, afinal. A CGTP está ciente de que a concertação era - e é - incontornável. Somente - não quer participar nela, meio único de poder manter a sua voz reivindicativa e agitadora nas ruas. Para a História ficará apenas a sua recusa em negociar. O seu clamoroso "não!".

Quer dizer: Carvalho da Silva e os seus apaniguados funcionaram a dois carrinhos. Por um lado, interessava-lhes o consenso, sob pena de um afundamento geral; por outro, a ausência da sua assinatura nesse papel consente-lhes continuar a descer a Avenida da Liberdade clamando pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Eles já - como sempre - tinham avisado que...

A história não é de agora. Conforme Zita Seabra referiu, a ligação entre os dirigentes da CGTP e o Comité Central do PCP é estreitíssima. De tal modo que as reuniões deste usualmente contam com a participação daqueles. Sucede, apenas, que no momento da fotografia para a Imprensa... os sindicalistas se refugiam na casa-de-banho. Regressando depois, porventura para lancharem juntos.

Convenhamos que Estaline utilizava métodos mais radicais: em vez de enviar camaradas para o WC, espetava com eles na Sibéria... A moderação dos tiques comunistas é uma feliz realidade.

 

 

Cavaco parlamentando com o indígena

João-Afonso Machado, 24.01.12

Não duvido que Cavaco Silva não flutue absolutamente à deriva ao longo do seu mandato presidencial. Se mais não for porque os seus conselheiros hão-de ser, pelo menos, razoáveis cartógrafos. E, quando provenientes do pulpito (sempre com aquele malfadado rubro-verde pano de fundo...), as suas intervenções discursivas até se percebem: está lá a preocupação de não ser excessivamente irmanado ao Governo de Direita, estão lá as suas convicções sociais-democratas, a percepção de que, à tardinha, esclarecerá com os mais indignados parceiros do PSD qualquer matinal dito mais alevantado. Vamos no sexto ano de Cavaco presidencial e ainda ninguém morreu afogado.

O pior - o pânico da tripulação - é quando o Chefe de Estado resolve descer a terra sozinho para parlamentar com o indígena!

Quando, enfim, se lhe descobrem as ruinas ainda não soterradas da Vivenda Mariani. E então o nosso secular bolo-rei foge-lhe pela boca fora, o gado açoreano sorri de felicidade e - deselegância das deselegâncias - começamos a falar de dinheiros pessoais. Na mais inocente entrega do ouro aos piratas em solo firme, de tocaia ao "comandante".

Que atire a primeira pedra a Cavaco o político que viva com mais dificuldades do que ele. Que aufira menos rendimentos ou menos pensões.

No mais... Cavaco tem já lugar cativo no anedotário dos Presidentes desta anedótica República. Isso é certo. Mas nenhum Rui Mateus escreverá acerca dele o que escreveu sobre Mário Soares.

 

O que faz um século

João-Afonso Machado, 23.01.12

Terá cem anos, mais coisa, menos coisa. É da idade de muita boa gente ainda conservando o necessário para, na maioria dos casos, viver os seus dias com dignidade e aquele encanto especial de quem já conheceu um século de mundo.

Pois aqui a voiturette também. E, se calhar, não a levamos tanto a sério. O motor ainda funcionará?

Obviamente, sim. O motor funciona à velocidade das ideias e das invenções e da criatividade e da tecnologia que, sempre mais aceleradamente, nos trouxeram de então ao conforto e à segurança do presente.

Apenas... e porque referi a segurança (por exemplo), se dirá que restam ainda algumas arestas por limar... Andar muito depressa tem os seus inconvenientes, desde logo quando as máquinas começam a mandar em nós, ao contrário do que seria suposto ser.

 

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