Das "Memórias de um Átomo"
«Na agonia da antiga civilização europeia, de África e da longínqua Asia rumaram povos sedentos de conquista. O pequeníssimo e simpático Portugal foi o seu anfitreão e o seu tubo de ensaio.
Chegaram primeiro os angolanos, cujo Imperador enviou, à frente do séquito de parlamentares e (à cautela) de alguns contigentes de ferozes ninjas, o dilecto general, nem mais do que a própria filha (querida da vitória) Isabel Santos, mulher formosíssima, quanto guerreira fria, implacável. Será lenda, apenas, mas muitos atribuem o súbito desaparecimento político de Pêro Santana Lopes, Condestável, a uma paixão atrevida e incontrolada pela magnética Isabel - de que resultou a ordem pronta da sua morte pelo horroroso processo de em vida lhe extrairem o coração pelas costas.
Os angolanos saciaram-se com os tesouros das Grutas e Armazéns dos Lagares de Petróleo (GALP), enquanto os chineses - a segunda vaga de ocupadores - misticamente acometeu as fontes filosóficas da Energia Divina Pura (EDP). E, pusilânimes, absorvendo-a, nem sequer empalaram António Mexia e outros guardiões do templo. Nem uma vez se ouviu o sinistro sibilar do sabre oriental, mesmo porque rápidamente a sua capital, estabelecida em Varziela, Vila do Conde, se achou repleta de estátuas de Buda, oferecidas por Joe Berardo, um convertido, e do caminhar descalço dos budistas vindos da praia.
E assim viveu Portugal então. Ainda com fome, já não esfomeado. Sempre menos português, salvo numa imensidade de pequenos recantos druídicos onde os seus costumes e as suas crenças, as suas danças e cantares de outrora, são zelosamente mantidas por meia-dúzia de iniciados».
(Com a devida autorização do meu Amigo J. da Ega, a quem mui grato sou.)