Ainda a propósito do Aleixo
A meu lado, um rapaz dos seus vinte e tal empenhava-se também na fotografia. E explicava:
- Eu vivia ali, no 13º andar. O meu quarto dava para a varanda mais acastanhada.
E prosseguia de máquina em riste, foto atrás de foto, impaciente pela derrocada que não havia meio de chegar. Sem sombra de saudades. Com um ar absolutamente saudável.
Jamais levantando essa lebre coxa da negociata de Rui Rio, dos pobres expulsos do Aleixo em nome de um projecto urbanistico de luxo.
Por motivos de ordem profissional tenho algum conhecimento do que se vai passando naquele bairro. Quantas vezes jantei numa casa próxima, assistindo à janela - era a sobremesa! - às rusgas constantes, aos dealers fugindo a saltar quintais. Quantos e quantos arrumadores (e não só) topava diariamente rumando o Aleixo, para se abastecerem. Quantos via depois subindo o Campo Alegre aos tombos, senão naquela expressão parada incapaz de ouvir a buzina dos automóveis.
O Aleixo era - continua a ser, oxalá não seja mais - um alfobre de vício, uma passagem com as portas e os vidros dos automóveis bem cerrados. Por muita gente sã que viva lá, naturalmente, havia espaço de manobra bastante para um comércio ilícito e imparável.
Foi a esse flagelo que Rio decidiu pôr termo. Creio que o conseguirá até ao final do seu mandato.
E não mais o sector honesto dos moradores se queixará dos quinze andares que têem de subir pelas escadas, com os elevadores constantemente avariados. Nem dos tiros, das ameaças, dos olhos fechados pelo medo, da sujidade e da falta de higiene.
Os protestos com a implosão desta torre compreendem-se: algo ficou mais a nu, ou menos susceptivel de ser escondido no Aleixo. A droga.