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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A cidade quase no Natal

João-Afonso Machado, 15.12.11

Para onde se escapuliu o Natal de outros anos? Não o encontrei na grande volta de esta tarde pela cidade. Já não digo nas decorações, nas montras, nos embrulhos dos transeuntes... mas nas suas próprias expressões, na animação urbana, enfim, num ambiente desejavelmente não inexistente, fugitivo.

Nunca tal presenciara. É certo, há quem não esqueça o pano com o Menino Jesus, emoldurado pela janela ou colado ao varandim. Mais ainda são os que penduram os Pais Natais pela parede acima - uns Pais Natais que se percebe terem sobrevivido às ultimas Festas, já muito encarquilhados, há que poupar e aproveitar...; uns Pais Natais desengraçados como as osgas, incomodativos, gostos são gostos, eu sei.

E sei, porque vi, que cem vezes mais do que os Meninos Jesus e os Pais Natais, as fachadas dos prédios, este e mais este andar, ostentam os cartazes das imobilárias. Dezenas e dezenas e dezenas deles em todas as ruas da cidade. "Vende-se", "Arrenda", e as casas devolutas, de olhos fechados, mudas, sem vida.

Como poderiam as pessoas andar contentes, tranquilas? Vem aí o terrivel 2012.

E nem toda a gente é dotada intelectualmente para, aproveitando o marasmo, se reciclar na Sorbonne...

 

João-Afonso Machado, 15.12.11

Eram já muitas décadas, muitos entusiasmos, tantas desilusões. Mil vezes jurara ser o caminho afinal outro.

Mas voltara sempre lá.

Entre a aventura e a crença, depois do cansaço, antes de retomar a corrida - sempre lá voltara.

Lá onde o tempo nem sabia mexer-se. E se eternizara, quedo, bordejado de plátanos, de chalé em chalé até ao espumar das ondas do mar. 

Sim, o próprio tempo se recusava avançar, esperando esse dia. O inevitável dia.

Por isso sempre lá voltara. Espreitando a praia, o sol, o vento, a maresia. Até a tempestade. Porque o dia surgiria,  esvanecida a noite, a longa e escura noite de tantos tropeções findos no areal, uma manhã em que o nevoeiro já se dissipara.

Sabia bem, assim seria. Um dia. O tal dia. O da mais bela alvorada da sua vida.

Desde que sempre lá voltasse.