Hortelão
Todos os dias são dias de conquista. A um terreno ingrato, carregado de raizes das grandes árvores que o cercam e das silvas que o ocuparam, após tanto tempo de pousio. Não interessa. De enxada na mão e hernia nas costas, o espaço vai-se desbravando. Valem também as duas colaboradoras caninas e o pisco, um trinado constante naquelas paragens.
Para breve virá um limoeiro. E, com um bocado de sorte, começando o plantio a medrar, algum coelho atrevido. A minha cal. 32, discretamente, se encarregará de melhorar o almoço nesse dia. Palavras do meu médico, as hernias não se curam só com vegetais...
Enfim, os limões trarão as aromas cítricos, tão benfazejos, e a vitamina C, suponho que a ideal para combater a "crise". O castanheiro já lá está, e à sua sombra conto montar uma banquinha onde tomarei algumas notas enquanto espero a clientela. Aceitamos pagamentos em libras. Mas longe de qualquer semelhança com "mercados negros" - apenas na mais descarada evasão fiscal. Quero dizer: trata-se de constituir uma off-shore. A primeira off-shore hortícola.
Como prometia o inolvidável João Camossa, havemos de vencer o Estado, nem que seja "esquecendo" a conta da água e da luz...