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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Hortelão

João-Afonso Machado, 11.12.11

Todos os dias são dias de conquista. A um terreno ingrato, carregado de raizes das grandes árvores que o cercam e das silvas que o ocuparam, após tanto tempo de pousio. Não interessa. De enxada na mão e hernia nas costas, o espaço vai-se desbravando. Valem também as duas colaboradoras caninas e o pisco, um trinado constante naquelas paragens.

 

Para breve virá um limoeiro. E, com um bocado de sorte, começando o plantio a medrar, algum coelho atrevido. A minha cal. 32, discretamente, se encarregará de melhorar o almoço nesse dia. Palavras do meu médico, as hernias não se curam só com vegetais...

Enfim, os limões trarão as aromas cítricos, tão benfazejos, e a vitamina C, suponho que a ideal para combater a "crise". O castanheiro já lá está, e à sua sombra conto montar uma banquinha onde tomarei algumas notas enquanto espero a clientela. Aceitamos pagamentos em libras. Mas longe de qualquer semelhança com "mercados negros" - apenas na mais descarada evasão fiscal. Quero dizer: trata-se de constituir uma off-shore. A primeira off-shore hortícola. 

Como prometia o inolvidável João Camossa, havemos de vencer o Estado, nem que seja "esquecendo" a conta da água e da luz...

 

Arribações

João-Afonso Machado, 11.12.11

Romarias de gente ao longo do molhe, a omnipresença dos pescadores, concederam-lhe foros de cidadania. Habituaram-se a esse pacífico convívio. Até porque as escamas e as barbatanas, quaisquer lasquinhas do chicharro que serviu de isco, é para eles sempre um petisco. Não precisam de mais, os pilritos. Por ali esvoaçam e se banham nos salpicos das ondas. E se prestam à fotografia.

Tal como as rolas-do-mar, muito afoitas, também há migalhas de farnel para debicar. De ano para ano a afluencia é maior. Sinal do bom acolhimento da terra e dás águas da Foz do Douro.

 

(Se me estás a ler, reconheço ter perdido a aposta de há um ano, caro primo Frederico.)

 

"Perversões"

João-Afonso Machado, 11.12.11

LIMIAR.JPG

Lentamente transformou as palavras

em rombos arremedos sem vírgulas

e sem acentos, aos tombos,

 

e não mais acalmou.

 

Não mais sossegou gesticulando

bombos de grafias e cores fugidias

da verdade,

 

não mais parou a maldade de dizeres molhados de choro

e hipocrisias.

 

Perdeu o decoro. Morreu

sepultada entre aspas de flores

e parênteses de amores. Sofreu.

 

(A seu lado, frases de sossego,

exclamações de apego,

parágrafos de espera.

 

Mas com nada de reticências,

rugiu fera

as derradeiras indecências...)