Das "Memórias de um Átomo"
«Naquelas eras a política era feita por gente fera, vertical, de “antes quebrar do que torcer”. Cavaleiros que cavalgavam o território e se prestavam a servir os povos. Chegados a qualquer comunidade, o costume determinava: repasto (sinal de serem bem-vindos), troca de oferendas, convergências de esforços, as populações deles dependiam.
Assim Armando Vara atingiu o litoral inóspito. Consigo, um caixotão de alheiras transmontanas. O seu anfitreão, Manuel Godinho, homem da beira-mar, aguardava-o com robalos, milhares de robalos, e o lendário pão-de-ló das terras de Ovar.
Vara (ou Variato, como querem alguns historiadores), sentiu o Interior menormente representado. Além de ainda não trabalhar o ferro – onde Godinho era mestre - esquecera o amaciado mel de Montezinho, falha de que não havia memória desde os Reis Magos. Titubeou. Submeteu-se. Estava nas mãos do cacique do litoral.
Variato (ou Vara, designação mais das gentes) e os seus escudeiros submeteram-se. Tudo aceitaram, a troco de largos punhados de moedas de ouro. Diz a História que empenhou o seu senhorio de Vinhais… Tudo a bem das populações sob a sua alçada.
E foi por isso que José Penedos, um seu apaniguado, endereçou responsabilidades ao próprio filho, Paulo Penedos, formado em Cânones. De corda ao pescoço, qual Egas Moniz, um retardatário. Era a lei poderosa, ditada, segundo os usos, do alto das penedias do tempo. E Ana Paula Vitorino, Secretária de Estado dos Transportes, indigitou o seu favorito, Luís Pardal, presidente da Refer. Porquê?
Porque o agreste clima do Nordeste merecia mais. Conforme as “memórias” do próprio Variato.
Gente heróica do início da Fundação. Que a História de agora facciosamente quer fazer esquecer».
(Com a devida autorização do meu Amigo J. da Ega, a quem muito agradeço, e após consulta dos anais do rico-homem Armando Vara.)