Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Silêncio

João-Afonso Machado, 30.11.11

Subitamente, um fechar de asas e a tranquilidade poisando. Sobre o folheio matinal de uma nova perspectiva, no regressso de outra tolice comezinha. 

Foi quando a realidade virtual recebeu a conta dos seus dias. Entre algum alvoroço, é certo, mas remindo em definitivo a bipolaridade ou a fantasia da vida. Tinha sido o colapso dos falsos estrelatos e dos recalcamentos chorosos.

Agora regressaram os elementos e as marcas do tempo. Nem a água surge maquilhada em tons de carnaval de optimismo. Simplesmente estamos no Outono, algures no segmento delimitado entre o início e o fim. E o retrocesso não é bom. Somos de carne e osso, não somos?

 

 

Soares y la revolucion

João-Afonso Machado, 30.11.11

MINHAS FOTOS 015

Mário Soares está infrene. É a contravolta do profeta da Comunidade Económica e da União Europeia. Agora que todos sentimos o peso da quimera e o morto-vivo político sente o peso das responsabilidades. Vai daí a sua escrita: «não podemos destruir tudo tudo por causa da austeridade», augurou primeiro, à laia de aviso. Depois apontou o caminho da revolução - onde a Imprensa quis ver (singelamente) uma preocupação no local em que residia uma ameaça de que Mário Soares era comparte.

O filme prossegue em quantas intervenções lhe são proporcionadas. De um modo ou outro, quem arruma o socialismo "na gaveta", oculta também outras convicções passadas e retoma o estilo vanguardista.

Mais a mais, é da idade. Ou do carácter.

E do à-vontade. Aconteça o que acontecer, Mário Soares não passará privações. Sempre revolucionou apenas os boulevards. E cá em Portugal limitou-se a apanhar boleias.

 

Durante as perorações dos poderes públicos

João-Afonso Machado, 28.11.11

Com 19 unidades do Banco Alimentar Contra a Fome, em funcionamento activo e empenhado, se recolheram umas largas centenas de toneladas de alimentos pensados para o Natal dos mais desfavorecidos. Não é novidade. É somente a confirmação de que, há já um punhado de anos, enquanto o Estado enche a pança e cobra impostos para não perder a linha curva, os privados se solidarizam e pensam em quem sofre toda a casta de privações.

Ainda agora, do mesmo passo que os partidos com assento parlamentar discutem a redução dos feriados civis... Haverá feriados para os desempregados? Com que alegria eles não os trocariam por dias de trabalho! E para os sem-abrigo? Será que a manutenção dos feriados lhe garantirá o costumeiro volume de esmolas?

Assim também as Misericórdias dão o litro e se substituem ao "Estado Social". Sem tributações de auxilio... E quantas outras entidades privadas!

Depois, na hora certa, virão as palavras da saudação e votos natalícios. Engravatadamente, solenemente, com a bandeira rubro-verde por trás e discursos apelando ao espírito de sacrifício, à esperança em melhores momentos. Tudo porque os parlamentares ainda não atinaram com a fórmula mágica e o Governo todos os dias tropeça em novos buracos...

Enfim, creiamos que, apesar disso, para quase tudo há remédio. Quem pouco tem, com pouco se contenta. A felicidade possivelmente não será assim dificil de atingir. A não ser para alguns, porventura com os bolsos bem forrados mas... despidos de gente à sua volta. Insolidários e não susceptiveis de solidariedade. Esses, tenho ouvido desabafar, detestam o Natal.

 

 

No dia seguinte

João-Afonso Machado, 28.11.11

Foi uma manhã toda. A terra mole é dura de andar, crescendo em redor das botas, como se estas fossem aumentando de volume e peso. E a planura do Alentejo é uma miragem. Depois de um cabeço há sempre outro cabeço. Mais os intervalos espessos de carrasqueiras e sobreiro, de mato e estevas. Aqui e além uma sucessão de tiros, foi bando que levantou. Deste modo, a perder de vista.

Mas vale a pena. Lava o espírito, enrijece o corpo, prepara a gente para outros balanços. E nem todos têm o privilégio de gozar um panorama assim, espaço, natureza, ar puro sem fim, o horizonte inteiro por sua conta.

No regresso, estradão fora no jipe, é como se a criação percebesse fora assinado o armistício. Passeando à nossa frente, nem o barulho dos motores as assustam. Limitam-se, prudentemente, a afastar-se para a berma, como qualquer transeunte. Tudo tem o seu momento. O almoço dos homens e o almoço das perdizes também.

 

Desenhos de além do Tejo

João-Afonso Machado, 27.11.11

Recortes do meio-dia. Perfeitos. Mais a casinha sempre alvissima, não vá a gente pensar que é outra forma de deserto. A Herdade das Barbas do Gaio tem muita vida, cultivada ou bravia. Mesmo aos sábados, enquanto a cidade ainda dorme. O Alentejo é todo ele uma pintura, um óleo sem moldura, em cujo calor das cores está a fria realidade da existência. O chamamento que todos esperamos, mas só alguns alcançam. 

 

Hoje trabalhamos todos (no escritório)

João-Afonso Machado, 24.11.11

Foram as notícias, logo de manhã: piquetes grevistas tentando impedir à força a requisição dos transportes mínimos, os cocktail molotov em três Serviços de Finanças lisboetas... A greve é um direito, não é uma imposição inter partes. Alanquei para o trabalho onde verifiquei que a minha secretária também não ia em conversa fiada.

De resto, o fenómeno repete-se: as manifestações grevistas pertencem essencialmente aos trabalhadores do sector público, esses que agora se vêem mais atingidos pela crise nacional. Maus hábitos! No privado, já há muito todos perceberam que sem empenhamento não há resultados. Que vivem, precisamente, desses resultados.

Depois Mário Soares... Um episódio confrangedor de uma família que porta consigo um ancião incontinente. Uma maçada! Inexplicavelmente com repercusão na Imprensa.

E, é claro, o estado do País. Mas, afinal, a greve geral leva-nos aonde? Em nome de que deusa os sindicatos nos sacrificam assim? Os desgraçados dos seus filiados terão consciência da consequência dos seus actos? Para que serve o exemplo grego?

A Demagogia esquerdina impera ainda. Essa a realidade. Mas, contrariamente a tantos Velhos do Restelo, acredito que o Governo seja suficientemente persuasivo. Porque a alternativa é eterna: o fim de Portugal e a discussão entre os que eram bons e os que são maus.

Sobressiste a demagogia. Persistem erros crassos do Passado. Talvez se aviste uma luz ao fundo do tunel.

Eu prefiro apostar. Não exactamente em meu nome, plantador de couves.

 

Histórias da Carochinha

João-Afonso Machado, 23.11.11

Pois é, Ritinha,  hoje almoçámos todos uma feijoada de lebre. Lembras-te? Aqueles com quem estiveste na largada de faisões nos idos em que o João Ratão te fazia o favor de se pôr em ti.

Eu vinha meio afogueado com as mais recentes novidades: pirateaste as mensagens da minha antiga página no Facebook, divulgaste-as esta noite, sem fazeres gajo algum aí na Marginal resolveste incomodar uma Senhora com telefonemas anónimos - que a sovavas, e à filha, que as deixavas marcadas, desfiguradas... Quando um dos amigos, lá no canto da mesa, lidava com um computador portátil. Nem hesitei:

- Oh António, empresta aí, fazes o favor?!

E reactivei o meu Facebook. E mostrei aos presentes a tua fronha, aqueles chapéus incriveis que enfias trunfa abaixo. Nem te conto, Ritinha, a reacção geral:

- Mas isto é um saca-rabos?

- Oh pá!, no estado em que aquilo está, melhor será chamares um canalizador...

- É um sagui a rir-se...

(porque este tem a mania que caça em outros continentes).

- Nada! Olha a trunfa: é um furão...

- Uma abetarda na época do cio, dizes tu

(isto a propósito daquela foto tua numa esteira mexicana, toda enchapelada),

- É uma gaja minorca, rapazes! Feia como a sujidade!

- Quem? Este peido amarelado?

- Com buço?

- A gaja é ganzada...

(Já não disfarças os efeitos dos teus charros nocturnos, hã?!).

- Nada disso malta: é a Paula Bobone!!!

(Quem te dera! Essa é feia, mas ao menos tem a desculpa de ser velha. Já nem dá para rir dos chapéus que usa...).

E por aí fora, o almoço inteiro, foto após foto, a tentar decifrar o bicho estranho que és, tão disfarçado debaixo da tua vassoura de piassaba. Uma animação!

O azar foi meu. Quando revelei que já tinhas estado na tal largada. Logo o dono da casa me repreendeu severamente. Que não, não queria gajas destas em sua casa. Tinha mãe e irmãs... Enquanto o folião do Joaquim, gargalhando, perguntava se não serias a mesma que se passeou o almoço inteiro por baixo das mesas.

E eu defendi-te: em ocasiões assim solenes, nunca farias serviços desses, escondida entre as toalhas.

Mas deves acalmar. Só para não me apetecer revelar as tuas especialidades. Sei-as todas. E não são bonitas.

 

Feijoada de lebre

João-Afonso Machado, 23.11.11

Veio, no último fim-de-semana uma carga pesada oriunda de Beja. Lebres! Nem todos estivemos lá, mas o repasto chegou para a maior voracidade. No Morfeu, da Maria Jorge, como de costume. Ninguém perdeu: as lebres não foram comidas por animais daninhos, os mantedores da Zona de Caça ganharam o seu e nós banqueteámo-nos - homenageando o António de S.C., nas suas 52 primaveras.

A regadela efectuou-se à custa de bons vinhos do Douro.

Sobre a mestria da cozinha, a apontar o usual - excelente!!! 

Em mais um impulso para a economia nacional...

 

"Quando o telefone toca"

João-Afonso Machado, 22.11.11

Li há dias, numa revista, uma crónica evocativa deste programa radiofónico de tão saudosa memória. No qual, muito certeiramente, se frisava o seu inovadorismo publicitário e o seu contributo para uma certa forma de democratização da música.

Era assim: o ouvinte principiava por dizer a frase do dia (ou melhor: da noite) naturalmente ligada a algum produto comercial. Por exemplo (e assim de repente, relacionada com uma marca de fogões); "Em cada casa uma cozinha, em cada cozinha um Junex". Porta aberta - então expressaria a sua preferência em discos, num leque amplíssimo em que se abanavam Amália, Max, António Mourão, Artur Garcia, lado a lado com os Rolling Stones, os Deep Purple, por entre miríades de Tordos, Patxis, Cides ou Demis Roussos.

"Posso dizer o meu nome?" - inquiria a ouvinte. Claro que podia. E a intervenção concluia com muitos beijinhos para o namorado, a afilhada, o tio, a amiga. Dedicatórias...

Era, diariamente das 22.30 às 23 horas. Quando, no mundo rural, os televisores se contavam pelos dedos da mão e quase sempre sem novidade a animar aquelo cinzento preto-branco.

E tanto tanto recordo - curioso! - o locutor (o Matos Maia, julgo eu) trabalhava o desenho em cima do joelho, quase sem rede. Sujeito às imprecauções de quaisquer. Outros tempos... Não reza a história o invectivassem

- Filho da p..., vai à merda!,

ou, grosseiramente, lhe desligassem o telefone na cara.

Nada. Matos Maia afirmava o seu programa quotidianamente, sem ataques e sem rancores. Sem medo, portanto.

 

 

 

Pág. 1/4