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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Comemorações da Nacionalidade

João-Afonso Machado, 05.10.11

Foi devidamente assinalada a data da fundação do Reino de Portugal, a 5 de Outubro de 1143. Em Coimbra, com a presença de S.A.R. o Senhor D. Duarte de Bragança e uma homenagem, na Igreja de Santa Cruz, junto do túmulo de D. Afonso Henriques.

Posteriormente, o representante do Trono português proferiu algumas palavras na sala do capítulo, perante uma numerosa audiência, exortando à fé e perseverança em relação à nossa continuidade como povo livre e independente, orgulhoso da História que construiu e deverá manter.

Por fim, os Duques de Bragança foram recebidos no salão nobre dos Paços do Concelho, pelo Presidente da Câmara, Dr. Barbosa de Melo.

Deslocaram-se a Coimbra, para assistir à cerimónia, muitas centenas de pessoas oriundas de todo o País.

 

Há um ano, lembram-se?

João-Afonso Machado, 04.10.11

O doutor deputado passou a noite à cabeceira da enferma. Agora repousa um pouco, cochila, num sofá do corredor da AR, o hospital de campanha sobrante. Implantou-se o desalento: os especialistas são unânimes, o seu prognóstico é muito reservado – a República, essa “prendada menina”, está tísica.

Os familiares, escassos embora, reagem inconformadamente. É sempre difícil encarar o fim de uma vida tão breve, prestes a concluir 101 primaveras apenas. Vai lá um ano, toda ela irradiando felicidade, apagava de um sopro só as cem velinhas do seu bolo de aniversário, presente dos afilhados, dez milhões de euros de uma penada deixados na mão do melhor pasteleiro do reino. Que é como quem diz, desta reinação infrene, a causar tanto escândalo entre os demais, todos nós, os vizinhos. Porque, sabemos, ninguém vive só de ar e vento. Nem dessa folgança em que a República, à laia da Ruiva de Fialho de Almeida, se revelou uma «rapariga corroída de podridões sinistras, abandonada do berço ao túmulo, e pasto unicamente de desejos infames e de desvairamentos vis».

Está tísica. E os portugueses estão tesos. É que dessa vida dissoluta nada sobrou senão a dívida – a repetidamente falada “dívida da República”.

 

A geração do "quotidiano"

João-Afonso Machado, 03.10.11

A ideia era a mesma, multiplicada por uns tantos casos idênticos, ilustrativos. A cidade, o drama diário de quem vem de fora, os empregos sempre precários, mal remunerados. Ou os estudos, um futuro ainda mais indefinido. E um punhado de jovens às escuras ou, quando muito, alumiando a vida com uma vela, a ameaça permanente de um sopro de ar, o breu, a inevitável cabeçada na porta fechada…

Os entrevistados da reportagem já se bastavam com a sobrevivência. Com o dia-a-dia, essa luta constante e absorvente por um acumular de hojes que jamais formarão um amanhã.

Deve ser muito complicado. Pouco confortável. Nada estimulante. Porque é bom estarmos sobretudo quando sabemos para onde vamos. E queremos ir.

(Se estas palavras incidissem particularmente sobre a temática política, era à busca de um qualquer Ideal que se refeririam. Não aos oportunismos, ao já cansativo “no jobs for the boys”).

 

 

Lisboa, hoje

João-Afonso Machado, 02.10.11

Hora do almoço. À passagem na Baixa lisboeta, na Rua do Ouro, o trânsito entope subitamente. E demoradamente, ao ponto de as buzinas entoarem os seus protestos e as pessoas abrirem as portas dos carros, a espreitar.

Ao longe, um movimento inusitado de pessoas, em plena via, bandeiras e papelotes, uma fumarada amarela.

Lá se conseguiu avançar. Chegados ao centro do charivari, lenços na boca dos circunstantes, a via desempedida, sim, e uma tropa juvenil - as bandeiras sempre.... - mais a percepção de que as forças da ordem vinham aí.

Não tardou a sua intervenção e o desvio do trânsito automóvel. O que se terá passado?

Estranho cheiro no ar, vidros fechados, umas tosses, ainda assim...

E o silêncio, nos noticiários nocturnos.

Oxalá não tenha sido outra helenização. Paira no ar o síndroma da revolta. Compreensivelmente. Mas a realidade é o que é. E a verdade, dentro de todos os subjectivismos possiveis, ainda aguarda uma resposta alternativa - que solução admissivel para além da União Europeia?

Não vale a pena chorar sobre leite derramado. Portugal aceitou um caminho, há já mais de uma década. Dar o dito por não dito é pior do que fugir para a frente, para a base de um eventual acerto qualquer.

Salvo, é claro, nos disposamos a uma miséria total onde quem perde sobretudo são, inevitávelmente, os mais pobres - esses que nunca alcançarão a Suiça bancária.

Têm a palavra os sindicatos. E os dirigentes sindicais - já ninguém (Helà!, sindicalistas profissionais!) garante o seu ordenado de dirigentes, num cenário de avalanche. Todos temos a perder, se não ganharmos a confiança nas entidades governamentais.

Exigência única, quanto a estas: fatinho e gravata à parte, não desbundem. Por uma questão de moralidade, apenas. Ou principalmente...

 

 

 

 

Diário de bordo

João-Afonso Machado, 01.10.11

Na improvável cadeira onde escrevo estas palavras, alías imprevisiveis também, - e oxalá eu as segure na trela... - penso as semanas e as horas, penso sobretudo o minuto-a-minuto dos sonhos e pesadelos e este amanhecer aparentemente ameno, ensolarado.

Lutei, resisti e talvez a verdade haja conseguido manter-se à tona. A cadeira onde escrevo é real e beije. Não a sujo com intenções ocultas. E lá vou firmando a consciência da espessa neblina logo além. Num oceano declaradamente rochoso e traiçoeiro. Ainda assim, impávida, a cadeira onde escrevo conforta o tombadilho da barcarola desta minha estranha viagem.

Estou longe do meu mundo. Mas muito perto de mim. Acredito chegaremos a bom porto.

 

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