Meu prezado Amigo João de Távora:
Como ninguém, o meu Amigo conhece a pátria História por dentro. Portanto, decerto, não ignorará este tocante episódio de beligerância em que galhardamente as cores da nossa bandeira se destacaram com abnegação e estoicismo. É o caso da invasão das terras minhotas de V. N. de Famalicão pela hoste olissipo-britânica do Turf, dito Sporting Club.
Eu estive lá. Pelejámos à bolada. A superioridade das forças adversas era manifesta. A táctica adoptada seguiu fielmente a ora designada movimentação do (sempre estes anglicismos..) football.
Não queira o meu Amigo saber! Melhor armados, robustos e bem nutridos, os olissipo-britânicos atacaram em toda a sua pujança. Invadiram e instalaram-se no nosso reduto. Mas quê? Qual os escassos 300 espartanos de Leónidas, também o poderio desses apaniguados do poderoso Xerxes foi baqueando. Caindo um após um, com amarelos ferimentos para nós, é certo, sempre em volta do último e sagrado reduto.
Tão descompensada batalha captou a simpatia dos mais generosos. Dolores Ibarruri, transfigurada de azul-branco, revivendo a eterna resistência de La Passionaria, ouvimo-la gritar, incentivar, incansável:
- No pasaran!, no pasaran!...
E os passarões não passaram!
Mesmo o arcano Artur Agostinho, não se poupava de exclamar:
- Muito bem! Muito bem!,
reconhecendo, inequivocamente, o mérito desta peonagem valente e sacrificada. Portuguesa, do melhor que há em Portugal.
Depois foi a breve trégua de um quarto de hora. O General ordenou eu fosse rendido. O mais, conhecerá o meu excelente Amigo sobejamente. Direi apenas que caímos aos brados de
- Viva o Futebol Clube de Famalicão!!!,
(não guardando ressentimentos por ter sido rendido…) e só acrescentando que o halali foi inquestionavelmente grandioso. Heróico!
Jura-me o Padre Serafim, das santas Terras de Basto, temos o nosso lugar assegurado nos anais lusitanos. Entre os entes celestiais também.
Com pesar, mas sempre orgulhosamente, despeço-me pedindo aceite o meu estimado Amigo os respeitosos cumprimentos do seu admirador
J. da Ega