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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O País em tempestade

João-Afonso Machado, 26.10.11

O vento e a chuva hoje assanharam-se, o mar braveja, as barras encontram-se todas, ou quase todas, fechadas. Oxalá não sobrevenham calamidades, mais do que as que o País já sofre, à míngua de sustento e de um amanhã de contornos bem claros.

Ainda assim, nestes solavancos da Natureza, nada que se compare aos desígnios da nossa, da humana natura. Dir-se-ia, absolutamente indiferente ao furacão ameaçando, dia após dia, levar-nos ao fundo a pique.

De hoje, também, é o proclamado propósito dos médicos portugueses abandonarem em massa o SNS. Afinal, terá já naufragado o Estado Social? Onde pára ele, se fugindo vai da consciência cívica nacional?

Não possuo meios de avaliar a justeza das reclamações da classe. Somente me convenço que os tempos não correm de feição no que tange a reivindicações. Quem assume as responsabilidades decorrentes de um País imobilizado? Totalmente descontrolado?

Não tardará, a meteorologia trará boas novas, a tempestade esvair-se-á no horizonte. E em terra? Prosseguirá a tormenta entre o Poder político e as muitas e muitíssimo queixosas classes profissionais?

 

 

 

Histórias da Carochinha

João-Afonso Machado, 26.10.11

Rumos do Demo esses que me via obrigado a percorrer contigo, Ritinha! Mas como ter-te em casa? Como suportar dentro de portas a tua presença dois dias seguidos? Não, antes soltar os cavalos, beber duas pipas de ar puro, caminhar à frente fugindo ao teu bracinho sempre à espreita de se pendurar…

Foram tempos que não voltarão. Nunca mais! Até o rio se esvaziava e te presenteava com toda a sua imundice. E o estupor do relógio, Ritinha, parado nas horas e nos minutos, nunca mais era amanhã… Ao que me sujeitei, tais as penas que penei, os ouvidos já zonzos e tu, incansavelmente,

- Rónhónhó, rónhónhó…

sem dares uma folga, uma nesga de descanso, a puxares-me a camisola, eu tentando fugir ao enguiço,

- Ai que gosto tanto de ti!

Pois, pois, e um queijo?, não queres comê-lo? E se apanhasses o comboio agora, que ontem à noite já lá vai?

Sequer o meu silêncio te explicava a evidência. E as ideias bailavam, ribeirinhas, aterradoras

(- Gostava tanto de aprender a pescar!...),

e uma vontade disforme de te pendurar num anzol e de te mandar às enguias, Ritinha, elas que te consolassem, esburacassem, desgraçada, se vez alguma me confrontei com ser mais maçador!?

Foi assim Ritinha. Um verdadeiro calvário, até caíres finalmente no caldeirão. Que alívio, então! Pagou as favas o pobre do rio, onde não mais fui capaz de pôr os pés, não andasse o teu fantasma nas redondezas.

(A bem dizer não é exactamente isto: as águas voltaram a correr ligeiras, mais lavadas, sobrevoadas por gaivotas e garças. Uma beleza! Mas isso é outra história, essa que tu agora cobardemente queres destruir. Talvez o tiro te saia pela culatra, espectro danado. Muitos são os que se lembram de ti, minorca, e se riem da tua mesquinhez e dessas proezas mais recentes de tua autoria.)