Sobre a educação "nacional"
Sempre foi assim. Os professores liceais de Educação Musical ou de Moral e Religião – seguindo a terminologia do meu tempo – suportavam o Purgatório em vida. Não havia notas a essas disciplinas, logo não havia também disciplina. Pobres coitados!
Ainda assim, sobreviviam. Com mais ou menos dores de cabeça, porque éramos insurrectos, conquanto longe de agressivos, demolidoramente distantes do aniquilamento da personalidade dos mestres.
Como em tudo, a situação inevitavelmente piorou. Chegando a pontos extremos como o do pobre docente que um dia se atirou da Ponte sobre o Tejo deixando um papel: «Se o meu destino é suportar, dando aulas a alunos que não me respeitam, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução será o suicídio».
Tinha 51 anos e era professor de música. Morreu, efectivamente, por vontade sua. Não corresponderá a um prodígio de sensibilidade apercebermo-nos do seu desespero…
Mas há o resto. Os miúdos que aviltados, humilhados, desfuturados pela perseguição a que são movidos pelos seus colegas, em idade em que a morte supostamente não existe no horizonte, a procuram como meta de paz ou de sossego. Ainda agora a Imprensa noticiou mais um caso. Pendurado numa forca por ele mesmo armada. Vivera dez anos apenas.
Os especialistas partiram em demanda da verdade e regressaram do estrangeiro com uma nomenclatura moderna: “bullying”, parece ser o apelido destas trágicas ocorrências. Que, como seria de esperar, se vão sucedendo, cada vez com maior frequência.
Isto é o sistema de educação da República. Isto é Portugal, em escassas mas inegáveis palavras.