História da Carochinha
Chamava-se Ritinha e era muito pequenina: as suas medidas não iriam além de um metro e meio de altura por dois ou três milímetros de alma. Raivosinha, por isso. Intriguista e fantasiosa. Enfim, nojenta.
Mas gostava de histórias e era danada para a brincadeira. Ai de quem não lhe desse atenção! Vingativazinha, deixava à sua imaginação e à sua ruindade rédea plena, propósitos bandidos. A Ritinha não se amedrontava de entrar em casa alheia e destruir o seu recheio. Nem de enviar veneno escondido em cartas anónimas. Então divulgar conversas alheias… ui!, isso era a delícia dela.
Às vezes, estando para aí virada, esperava pela meia-noite para incomodar os vizinhos.
Está-me com ódios. – dizia então, a choramingar. – Tenho pena, meu escritor actual favorito.
E a resposta não se fazia tardar, saturada: – Estou sem óculos. A dormir… - e esperançada que ela fosse atazanar outro qualquer, quem sabe?, aproveitar o luar para comer uns frutos silvestres.
Foram muitos anos da Ritinha em volta das gentes da aldeia, em biquinhos dos pés, sempre a ver se papava algo, com as suas artimanhas. Até ao dia em que se atreveu a entrar na residência de uma senhora já cansada das suas patifarias. Aí tudo se tornou mais complicado. Seguindo o conselho de alguns especialistas, armou-se-lhe uma ratoeira. E ficaram todos à espera de a ouvir chiar.
Não demorou muito. Ainda assim admirados, perceberam que a Ritinha andava a roubar de uns para vender aos outros. Levava e trazia… Até que – trac! – o alçapão se fechou e a Ritinha ficou lá dentro com um número muito comprido, todo enrolado na sua cauda, onde se lia, para ela nunca mais esquecesse a sua inteligência pouca: IP.
E porque roubar é muito feio, chamou-se a polícia que pregou um valente puxão de orelhas à Ritinha.
Assim na aldeia todos voltaram a dormir descansados.