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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Autofagia republicana

João-Afonso Machado, 19.10.11

A esta hora, há precisamente 90 anos, a República portuguesa dava um dos mais deploráveis exemplos de si mesma. Lisboa, então, ardia em conspirações. Ante a agitação social e a ameaça constante de rebelião militar, o Governo, presidido por António Granjo, pediu a demissão, aceite prontamente pelo Chefe de Estado, António José de Almeida.

Era, porém, já demasiadamente tarde para travar a sede de matar dos marinheiros, da tropa da GNR, da Formiga Branca, da populaça mais arruaceira. Assim se iniciava, na capital, o sangrento episódio conhecido na História pelo ajustado rótulo de “a noite sangrenta”. A bordo de uma camioneta (a “camioneta fantasma”…), saindo do Arsenal comandados pelo cabo Abel Olímpio – o “Dente de Ouro”… - uns tantos marinheiros, sempre assuados pela turbamulta, capturaram sucessivamente António Granjo, José Carlos da Maia e Machado dos Santos (combatentes da Rotunda), Freitas da Silva (oficial da Marinha) e Botelho de Vasconcelos (coronel sidonista).

Foram todos abatidos a tiro, alguns previamente espancados, mesmo à vista dos seus familiares.

De resto, viriam estes a recusar para as vítimas a honraria de funerais nacionais que o Governo, acalmada a situação, pretendia efectuar.

Houve julgamento, um ano depois. Muitos indiciados, quer por autoria moral, quer por autoria material. A pior condenação recaiu sobre o “Dente de Ouro”, obviamente – dez anos de prisão!!! Que não cumpriu integralmente, sequer. E a maioria (sobretudo entre os graúdos) foi absolvida.

Coisas da República. A fazer lembrar, em alguns aspectos cruciais, a tragédia do Cessna onde viajavam Sá Carneiro, Amaro da Costa e os mais. No mesmo mundo maçónico de impunidade.

 

 

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 19.10.11

As minhas perdizes, quando de passagem pela cidade, ficam normalmente ao cuidado do Sr. Joaquim Pereira. Tratadas com toda a excelência, assadas ou estufadas, comparecem depois à mesa, onde as aguardamos, eu e os meus filhos, e o Sr. Joaquim connosco. E assim decorre o jantar, com sabores a lembrar a culinária de Amarante e Vila Flor, as terras da sua gente.

É no Porto Sentido, um dos mais procurados restaurantes para “jantares académicos” – coisas da rapaziada universitária, com muita sangria à mistura.