"Democracia participativa", ouvimos nós
Nestas voltas de indignação que, mais ou menos, agitaram o País este fim-de-semana, voltámos a ouvir falar – com grande ênfase – na “democracia participativa”, como a cura genial para os males que nos afligem. Vale dizer, os manifestantes reclamavam exaltadamente o seu direito de intervenção na vida política nacional, porventura substituindo-se à famigerada “classe política”.
Talvez não seja despiciendo constatar que a antinomia “democracia representativa” / “democracia participativa” não é assim tão notória. A primeira evidência da participação residirá na escolha dos representantes, necessariamente pelo método eleitoral. Ora, ninguém esquece os estrondosos e sempre crescentes níveis do abstencionismo nos anos e nos escrutínios antecedentes.
O que, inapelavelmente, traduz o alheamento dos cidadãos face às grandes questões políticas nacionais. Se carregados de razão na sua descrença? Talvez. Mas a constituição de novos partidos nunca foi vedada; e, no plano autárquico, a liberdade de apresentação de listas independentes funciona plenamente. Por isso…
Sejamos francos, sinceros. Não quisemos saber, pura e simplesmente. Limitámo-nos a alardear o nosso desprezo pela gente dos partidos. Até que a crise nos bateu à porta e começámos a perceber o alcance dos seus efeitos. Só então parecemos ter acordado… - eufemismo meu, frente à televisão, assistindo às imagens das manifestações e dos manifestantes. Está lá tudo claramente explicado, apenas com o cuidado de não utilizar terminologias antigas como a “democracia burguesa” versus “democracia popular”. Demagogia pura, em suma. Até porque ai de quem faça frente a Louçã na chefia do BE… E por muito menos de um alvitre quanto à pessoa do secretário-geral do PCP se expulsa um militante deste partido…