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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A marcha da indignação

João-Afonso Machado, 14.10.11

Entendamo-nos: a marcha da indignação que eu apoio não vocifera contra o Governo, nem sequer contra o sistema político, nos pilares que basicamente o definem. Outrossim, não põe em causa o Regime.

Também não será uma caminhada barulhenta participada por uma geração muito mais nova do que a minha. Cabe lá, na marcha da indignação, toda a gente, de todos os credos e proveniências. Aliás, ela estender-se-á muito além das nossas fronteiras, se é que ainda as temos.

Não, o que está em causa é o logro a que, durante décadas, fomos conduzidos. Essa espécie de canto da sereia a fazer-nos gozar o presente descurando absolutamente o amanhã. Enquanto, do lado de lá do planeta, outras economias floresciam e riam à socapa da obsolescência da nossa. Da do mundo ocidental, para ser mais claro.

Venho de uma família que tem terra, e da terra viveu, nunca sabendo o que é ter dinheiro. Desse dinheiro que se gasta em automóveis precoces (até ao final do curso universitário, foi sempre a bicicleta…), em férias mirabolantes e em tontices congéneres.

Já a faixa etária dos meus filhos nem espera pelos 18 anos para se abalançar à carta de condução… Isto para não mencionar os telemóveis e toda a restante parafernália tecnológica da actualidade. Apesar do seu comprometidíssimo futuro, os meus filhos, os filhos de todos nós, dispõem de muito mais facilidades materiais do que as ao nosso alcance na sua idade. E quem, senão os pais, as proporcionou, sem querer saber de consequências, sem sequer acautelar a trivial recomendação de estudo, trabalho, aplicação?

Gostámos de gastar, habituámo-nos a gastar, nem nos ocorreu que nem tudo são inundações: a seca surge também, como neste Outubro terrível.

 

"Larry" Costa

João-Afonso Machado, 14.10.11

Tínhamos perdido o seu rasto e já desesperávamos. Uma simples e inusitada fotografia foi o bastante. Estava em Londres, era o Larry… Nem mais do que o porteiro do Prime-Minister britânico. Atravessámos de um pulo (de lobo) o Canal da Mancha e recuperámo-lo. Ou então essa grande Capital vinha abaixo. Nem foi preciso meter a polícia ao barulho…

Demos com ele infelicíssimo, fazendo a guarda do number ten de Downing Street. Quase um cabeça-de-giz azul-escuro. Hirto, fleumático, esquecido do que é rir. Um morcão, em suma.

De regresso à Pátria, o nosso Costa descomprimiu. Esticou-se, a gozar novamente este sol meridional, versão minhota, famalicense, tão caseira. É vê-lo e comparar… 

Um final feliz, dirão. Com reservas, contudo. A sua expressão actual lembra a de um ledor voraz de Guerra Junqueiro. Com as lunetas na ponta do focinho agarrado, viciado, no Finis Patriae.

Por mais que a gente lhe tentasse fazer ver que a nossa História está cheia de ingleses chatos – Methuen, Beresford, Wellington, Palmerston, Salisbury, Bobby Charlton, George Best… - e mesmo de alguns patos-bravos como Abramovitch, a verdade é que o United Kingdon, ou a Monarquia britânica, propriamente dita, nenhum mal nos quis, desde o Duque de Lancaster até Eduardo VII e aos dias de hoje. Aliás, não faz parte da Zona Euro.