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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Estações

João-Afonso Machado, 09.10.11

O ano vai caminhando para o silêncio. É a brisa que o traz ao seu encontro, no esvoaçar das folhas avermelhadas das videiras, nas colheitas que já lá vão. Assim deve ser, tudo tem o seu tempo, mesmo estas tardes com um nada a saber a sossego no andar dos ponteiros do relógio.

Chegámos às nozes e às castanhas. A dias mais lerdos, ao eco longínquo do mar de Agosto. O roteiro das chuvas avizinha-se - sem pressas, é certo – mas inquestionavelmente no mapa deslizante da vida que nos cumpre construir. Pedra a pedra, até à cumeada onde gozaremos o sabor da obra feita.

E quando o planeta completar outra traslação, Pêro espera-se seja já mais sabedor, ciente de si e dos afazeres que o esperam. No resto… um naco de preguiça só purifica. As tardes de domingo também se inventaram para a sorna.

 

A "pindérica festarola"

João-Afonso Machado, 09.10.11

Na sua crónica do Público da passada sexta-feira, 7, escreveu Vasco Pulido Valente: «Numa cerimónia, de ano para ano mais penosa, o Presidente da República foi à Praça do Município celebrar a República radical, quando já esta anuncia a sua própria desaparição». Referia-se, naturalmente, à «pindérica festarola do “5 de Outubro”, a que ninguém ligou».

É, constata-se essa fixação do Poder em não deixar em definitivo o obsoleto ritual de, cada vez que a República festeja sozinha o seu aniversário, içar a bandeira na varanda da Câmara onde, certa vez, alguns milhares de portugueses presentes acreditaram nas promessas de uns tantos malandrins a breve trecho completamente desmascarados quanto às suas intenções e capacidades. Com uma ligeira diferença: há já muitas décadas, a praça defronte está rigorosamente vazia, afora quaisquer cornetas e bombos da banda dos Sapadores Bombeiros, para o efeito convocada.

Até aqui, as novidades são nenhumas. Curiosa, e merecedora de reflexão, é a expressão de VPV – «A República radical». Como se houvesse outra, porventura a “moderada”.

Não há. A República é só uma. E os seus acólitos quase nenhuns. Serão eles, apenas, os tais «radicais». Descontando o extremismo cesarista de Direita e o igualitarismo pavloviano de uma certa Esquerda, a indiferença tomou definitivamente a vez do republicanismo, em tudo o que não diga respeito à consagrada «ética republicana». Quero dizer: àquelas franjas do espectro partidário, por norma ligadas ao PS, onde muito fraternamente se pratica a negociata, o conluio, o tráfico de influências e outros mais petiscos cozinhados de avental.

 

"Vento segredado"

João-Afonso Machado, 09.10.11

Toda a noite o vento não cansou

olhares frios

e não calou dizeres silvados,

sopros secos, areados.

 

Doeu acordar sequioso,

doeu não recordar

lágrimas e neblinas.

 

Doeu o vento mentiroso

escondendo madrugadas

nos uivos dos pinhais

além das colinas.

 

E dói o teu segredo

(onde estás?, já vais?...),

dói o silêncio opaco do medo.