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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Um ano depois

João-Afonso Machado, 04.09.11

Precisamente há um ano, acordei com um telefonema do João Távora e o convite para integrar o Corta-Fitas. Aceitei, com (sincera) surpresa pela lembrança e entusiasmo pela experiência. E, também, com algum temor. Escrever o quê?, sobre quê?, quando?, em que quantidade?...

Alguém muito perto de mim, então, foi prestando o seu aconselhamento, incentivando, fazendo-me crer na valia das minhas ideias. Aqui fica, por isso, sonantemente, a expressão da minha gratidão por quanto apoio me deu, por toda a luz que fez incidir sobre a diversidade de caminhos alternativos. A ausência de memória é, tantas vezes, sintoma de medo, quando não de falha de caracter - e sempre uma porta aberta para a injustiça. Não gostaria de enveredar por nenhum desses trilhos.

Enfim, resolvi escrever sobre o que me dizia o coração, com todos os tempêros que a razão aconselha. Defendi a Instituição Real porque é, e será sempre, o espelho da Nacionalidade. "Viajei" por Portugal, especialmente pelo Minho, a terra do me sangue e da minha gente - o mundo em que me revejo. Participei - eu, o maior refractário à política partidária - no "combate" à governação socialista de José Sócrates, por a entender daninha, letal para os interesses do nosso País. E fui brincando, com esta ou aquela historieta.

Acreditando sempre no Futuro. No interminável correr das gerações. Nas âncoras e nas velas, nas referências e nos projectos. No Amanhã. Ou na eternidade da História, se quiserem.

Um ano, pois, em que gostei do que fiz. Não com espírito de missão, menos ainda histrionicamente. Falta-me a vocação de missionário e nada me dizem as artes cénicas. Apenas gosto de escrever e não temo expor as minhas crenças. Assim procedi.

Resta agradecer ao João Távora. Acima de tudo, a linearidade do seu discurso. Podemos ter opiniões absolutamente opostas - mas havemos sempre de as assumir sem meias tintas, com mútuo respeito e recíproca lealdade. Com o João nunca foi de outro modo. Nem com os restantes colaboradores do CF, que entretanto conheci e a quem deixo aqui um grande abraço também.

A caixa de comentários fica hoje completamente aberta. As críticas construtivas são muito bem vindas e, antecipadamente, manifesto o meu reconhecimento aos seus autores. O mais... ao fim de doze meses já não incomoda sequer.

 

O sinistro

João-Afonso Machado, 03.09.11

Em plena A25 ocorre a tragédia: rebenta um dos pneus do atrelado, obrigando a uma paragem imediata. Logo se constata a impossiblidade de prosseguir. Tomado de uma imensa aflição, o proprietário do reboque multiplica os pedidos de perdão, suplica a compreensão dos demais. O condutor do jipe, analisando a situação, não perde a sua lendária fleuma. Talvez se note apenas alguma contrariedade na forma como rilha o charuto. E agora?

Há ainda uma terceira e bondosa personagem a registar o acontecimento, depois de sossegar as senhoras que viajavam na viatura acidentada. Não foi além de uma "porra" baixinho, inaudível como as demais exclamações, irrepetíveis, todas ditas só para si, em pensamento. É ele também quem solicita assistência através do orelhão SOS nas proximidades.

E substituido o pneu (com a ferramenta disponibilizada pelo funcionário da concessionária, entretanto presente), é decidido tomar o rumo de Águeda, onde o reboque poderia ficar em casa de um parente, uma vez que o outro pneu ameaçava explodir também, a qualquer momento. (Fugaz olhar de severidade por parte do condutor...). E tudo com grande desgosto das senhoras, duas das quais, aliás, se encontravam em estado interessante e assinalavelmente fatigadas.

O percurso até às terras do aludido parente de Águeda foi, por isso, percorrido com as maiores cautelas e vagares. Valeram as belezas da paisagem para amenizar a impaciência dos circunstantes.

E por fim o regresso ao Porto, com o passageiro do banco de trás partilhando o mesmo, sempre bondosamente, generosamente - cavalheirescamente - com as senhoras até aí ocupantes do atrelado.

Tudo terminou, então, sem males de maior.

 

 

Lodões, hoje

João-Afonso Machado, 03.09.11

Zona de Caça Turística da Vilariça. Em terreno não necessáriamente o ideal para codornizes: estevais, giestais, pouco restolho, nenhuma milhã. Mas com caça. Como se constata.

Chama-me o Carlos M. a pedir a fotografia, a sua Tinta está marrada, queda, em concentração total. Assim é, efectivamente. E tal o extase que não se apercebe, a codorniz já exalara o último suspiro há minutos. Vale-lhe na aflição a minha conversada, sempre prestimosa, a proceder à remoção do cadáver e a entregar-mo em mão. Um bom cobro, chama-se a isso.

No final da manhã foi a minha vez de pedir ao Miguel O. se ocupasse da carreira da tiro. A pequena topara a codorniz e parecia uma estátua romana. Havia que emoldurar o momento. Fixa, como se hipnotizada, avançando em passos milimétricos até onde se adivinhava esconder-se a ave. Ao levante sucedeu-se o inevitável e novo cobro magnífico.

Foram 14 peças. entre os três. O bando rival, em terreno restolhado e de plantio, cinco espingardas e dois guias, mais o apoio canino, não alcançou tanto. Faz-se o que se pode....

Merecido, portanto, o cabrito do almoço. E toda aquela colecção de queijos e compotas transmontanas.

 

 

 

Codornizes!

João-Afonso Machado, 02.09.11

Trás-os-Montes, aí vamos nós! Tremei codornizes! Horta da Vilariça, Moncorvo, um dos lugares mais próximos do Paraíso de Adão e Eva que já conheci. Para atirar, "pintar" uns retratos e treinar a pequena.

Será um dia em cheio. Bom... Oxalá a minha provecta idade não confunda esta parafernália de funções e não acabe fotografando os disparos, treinando as codornizes e espingardeando a cachopa. Valha-me Santo Huberto...

 

"Sete"

João-Afonso Machado, 01.09.11

Sete Cidades de verde e esperança,

Sete Cidades de azul,

sete tempestades

e sempre a bonança,

sete bússolas

viradas a sul.

 

Sete Colinas,

sete vezes sete enigmas,

sete partidas pintadas as sete...

... todas as sete vidas

 

mais as sete que eu inventar,

sete modos de a levar.

 

Passado-Presente-Futuro

João-Afonso Machado, 01.09.11

Sethe, a antiga escrava negra do romance Be Loved, de Toni Morrison, tinha no futuro apenas uma arma para manter o passado à distância. E no presente - a "vida melhor" que agora vivia - nada mais senão a não vivência da sua anterior vida.

De modo que as páginas da obra se arrastam em dias pesados para a protagonista Sethe. Ninguém mantém o passado à distância, sobretudo quando ele envolve uma filha roubada, para sempre desaparecida, ao abrigo das desumanas regras esclavagistas. E não é por se ter deixado os males da vida anterior que necessáriamente se abriram as portas de uma vida melhor.

Sethe, desamparada, sabia o que não queria; mas não sabia o que queria.

Virá a descobri-lo na altura em que se apercebe não é a fugir que alcançará a felicidade. Sethe torna-se um ser livre e uma existência firme, realizada, quando encara a sua história e resolve lavá-la, exorcizá-la de todos os demónios, em combate consigo e com os que a rodeiam e fazem parte dela.

 

 

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