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É uma história antiga e sinistra. Encapuçada. A vir ao de cima, de quando em vez, sempre inconsequente.
Corriam os Anos 30 do século passado. Artur Carlos Barros Basto, oficial do Exército português com a patente de capitão, era judeu de sangue e religião. A ele - director do Instituto Teológico Israelita - se deve a construção da sinagoga portuense, na Rua Guerra Junqueiro. Então. Assunto delicado, a República salazarista nunca primou pela maleabilidade e as intrigas não tardaram a vir à tona...
Abreviando caminhos, Barros Basto foi vítima de diversas denúncias anónimas e acusado de homossexualidade. Conquanto tal nunca fosse provado (nem, tão-pouco, os alegados abusos perpetrados na pessoa de pupilos seus), o Exército expulsou-o das suas fileiras, em 1937, sem direito a reforma. Morreu na miséria, em 1961.
Sobreveio a Revolução de Abril. A viúva de Barros Basto ainda instou o Presidente da República, Costa Gomes, rogando justiça à sua memória, posto tudo resultar apenas de perseguição política a um praticante da religião judaica. O Estado-Maior General das Forças Armadas pronunciou-se: tal pretensão era absolutamente destituida de fundamento legal... Ou seja - negou-lhe a reabilitação moral e a sua reintegração póstuma no Exército.
Os anos foram correndo. Já na geração dos seus netos, a derradeira tentativa aconteceu durante o mandato presidencial de Jorge Sampaio. Parece que houve promessas de resolução, esclarecimento, da questão. Mais nada - promessas apenas. Até hoje.
Por isso, o assunto permanece na ordem do dia. Muito concretamente, em Trancoso, onde se realiza o Festival da Memória Sefardita, neste ano centésimo primeiro da República Portuguesa...