Raças nobres
Aconteceu, eu estava lá e vi. Ou melhor: ouvi. Nem mais do que a longa dissertação de um distinto cavalheiro acerca da superioridade da etnia branca. Isto no decurso de uma bacalhauzada memorável em que não percebo onde o perorante descobriu o exemplo utilizado para ilustrar a sua tese.
- Olhe lá você as galinhas! Então não é que as maiores, as mais numerosas e mais vendidas, não são todas brancas?
Estarreci. Em vez do cavalo do Napoleão, celebérrimo e albino, o arguente, ainda por cima, lançava-me ao prato não outra posta do fiel amigo, mas essa espinha mais: as galinhas de aviário! Enquanto a nobre raça portuguesa (dolicocéfala) se esforça, em feiras, em concursos, em restaurantes, por recuperar os tradicicionais galinácios lusitanos.
Essa a actual aposta da Madre. Criar, apurar as pedrezes, as peladas, futuramente as pretas. Todas de saudosa memória.
Naturalmente não por puro espírito coleccionista... Há interessados, é um negócio como outro qualquer. Mais ovos e melhor carne, em suma. Os tempos vão dificeis para toda a gente e todas as iniciativas valem. Afinal, a Madre tem mais quinhentos anos do que esta desvastadora República e, desejávelmente, há-de viver mais do que a "tais" outros tantos. Até quando for declarada extinta a raça branca das galinhas de aviário.