A crise espiritual
Sem grandes alarmismos, reconheça-se, os círculos políticos e financeiros, a Imprensa, vão deixando transparecer a crescente impaciência da Europa abonada ante o laxismo da Grécia. Em suma, os gregos não cumprem, sequer se importam já em cobrar bilhetes nos transportes públicos. Navegam à deriva as galeras jónicas.
O caos alastrar-se-á: outro dado adquirido. E o nosso Portugal será, consabidamente, o próximo atingido. Não há muito a fazer, além de esperar.
Mas é normal se reflicta sobre o pós. Não agora nas vertentes costumeiras, as que envolvem a instabilidade das instituições do Poder e o sector produtivo, a agitação nas ruas.
Penso específicamente no lado pessoal do problema.
A consumação da "crise", nesse seu previsivel auge, afectará também os espíritos. Independentemente da resistência das bolsas que os sustentam. Porque (eu não me tenho apercebido de grandes dissertações a este propósito) se instalarão entre todos nós o medo, a angústia, a ansiedade. Toda a tristeza que cerca a ruina. O desalento, enfim, por muito dinheiro à cautela depositado em todas as imagináveis Suiças da segurança de cada um.
O campo das relações humanas é o mundo dos afectos. O único onde dificilmente se improvisa ou ficciona.
Não conheço a realidade além-fronteiras para sobre ela me pronunciar. Mas de Portugal e dos portugueses já vi algumas décadas de bastante. O espectro da solidão paira sobre as cabeças das multidões citadinas. Já na Provincia...
Na Provincia acredito no retorno à estrutura dos clãs. Na congregação das famílias a partir das (mais ou menos remotas) relações de parentesco e amizade. Na entreajuda, em uma palavra. Sobreviveremos, estou certo. Somos muitos e cada um representa um contributo. Ponto é - esteja lá, de ombro disponível para as aflições do seu semelhante.